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Dramas humanos se acumulam em tragédia da Braskem, em Maceió
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Mutange, Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e Farol. Esses são os bairros “fantasmas” no entorno da lagoa do Mundaú, em Maceió, que foram evacuados pelo risco de desabamento recorrente da exploração mineral de sal-gema pela empresa petroquímica Braskem.
Desde 2019, quase 60 mil pessoas tiveram que deixar suas casas pelo medo dos tremores de terra que criaram rachaduras nos imóveis da região. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a exploração de 35 minas de sal-gema pela Braskem foi a responsável por deixar milhares de pessoas desabrigadas e transformar bairros antes movimentados e populosos em lugares praticamente desertos.
Desde última quarta-feira (29), os moradores da parte dos bairros que não foram evacuados estão em alerta. Uma decisão judicial levou a retirada de 23 famílias que ainda resistiam ao despejo no bairro do Pinheiro. Segunda a Defesa Civil, a área da mina número 18 ameaça desabar a qualquer momento, com potencial de criar uma cratera maior que o estádio do Maracanã.
Mas em algumas ruas desses bairros o trânsito ainda é liberado. Seguranças particulares, contratados pela Braskem, vigiam os mais de 15 mil imóveis, hoje totalmente abandonados. Os locais passaram a ser propriedades da empresa após paga a indenização, que ainda é contestada por parte dos moradores.
Bairro “desapareceu”
Nessas ruas, casas, lojas e até prédios inteiros tiveram as portas e janelas substituídas por tijolo e cimento, criando muros que impedem a entrada de quem possa buscar algo de valor que os moradores tivessem deixado para trás. Em muitos casos, os imóveis foram cercados com placas de alumínio que cobrem as fachadas.
O mato cresce fora e dentro das casas, que apresentam sinais de desgaste e depredação. Os muros são marcados por uma série de números pintados em vermelho, que indicam os registros de desocupação. Em algumas fachadas, há também pichações; um protesto contra a Braskem e o poder público, ou mesmo desabafos, lamentos pela dor de quem teve que seguir a vida longe do lugar que amava.
A Rua Professor José da Silveira Camerino, que corta o bairro do Pinheiro e está na região da área da mina 18, é um retrato de desocupação e ao mesmo tempo de resistência. De um lado da rua, sem aviso de interdição, parte do comércio local ainda resiste, como um posto de gasolina e uma praça com ambulantes. Do outro do lado, o cenário é o inverso: tudo fechado. Nesta quinta-feira (30), até o Hospital do Sanatório, que fica também nessa rua, transferiu pacientes para outras unidades de saúde às pressas, diante da possibilidade de desabamento da mina 18.
O comerciante Mateus Costa tem uma loja de autopeças de um lado da Rua Professor José da Silveira Camerino e uma oficina mecânica do outro, uma na frente da outra. A oficina amanheceu, nesta sexta-feira (1), isolada, com aviso de interdição pela Defesa Civil. Seu sentimento é de desalento.
“Você imagina estar situado num bairro e o bairro todo desaparecer? Não existe mais o bairro, não tem mais nada. O comércio caiu 80%. A partir do momento que o seu faturamento cai, você já não consegue manter o mesmo padrão que você tinha. Isso mexe com você de todo jeito. Psicologicamente, eu estou arrasado. Falam que homem não chora, mas tem que chorar um pouquinho”, desabafa.
Mateus foi despejado de sua casa logo em 2019, mas conseguiu adquirir um imóvel com a indenização da Braskem no mesmo bairro, o que segundo ele hoje é tarefa bem difícil. O mercado imobiliário da cidade ficou inflacionado com o deslocamento forçado de tanta gente.
Manuela Rodrigues, de 79 anos, nascida e criada no Pinheiro, mora perto das lojas de Mateus. Enquanto os fundos do imóvel servem como casa, a frente abriga uma pequena mercearia, hoje bastante esvaziada. Não há clientes para movimentar o comércio.
“É triste para quem nasceu, viveu e ainda está vivendo aqui. O que está se tornando é uma tristeza. Eles estão dizendo que aqui, essa parte nossa, não tem área de risco. Fica uma interrogação, será que não vai acontecer nada aqui? Porque tem do outro lado da rua e no meu lado não tem? Aí eu fico pensando nisso”, questiona.
Manuela diz que a única alegria que ainda restou no lugar é a vista no bairro do Pinheiro. “Nosso pôr do sol ainda é muito lindo, você vê a lagoa [do Mundaú] e o pôr do sol”.
Cleber Bezerra também morou no bairro a vida toda e teve que sair quando os tremores começaram. Conseguiu comprar uma casa em uma região mais distante do Centro da cidade, o bairro do Tabuleiro dos Martins, depois de mais de um ano vivendo do aluguel pago pela Braskem. Aposentado, com 62 anos, visita os amigos com frequência no Pinheiro. Ele relata ter dificuldades para socializar no novo bairro.
“Para mim não foi bom não. Antes era 10 minutos até o centro [de Maceió]. Agora, onde eu moro é a 40 minutos. Tinha amizades, conhecimento, aqui era tudo perto. A gente foi obrigado a sair, né? Você nasce no bairro, cresce no bairro, faz as amizades. Quando você vai para outro bairro, começa tudo de novo, começa do zero, não é mais a mesma coisa”, lamenta.
“Cena de guerra”
Em frente ao Hospital do Sanatório, Mário dos Santos tem sua barraca de acarajé há 30 anos. Vendia até 200 unidades do quitute por dia antes do “pesadelo” da Braskem. Hoje, comemora quando consegue vender 50.
“Não tem mais movimento, fechou o hospital. Fica difícil a vida da gente. Já me pediram para sair daqui, a prefeitura avisou que aqui agora é da Braskem. É uma revolta, agora penso até sair daqui, já que vai fechar tudo e não vai ter ninguém. Parece uma cena de guerra aqui. A galera toda está com medo, medo de afundar e morrer todo mundo. No risco, a gente tem que ficar porque é o ganha-pão do dia a dia”.
A história se repete com o feirante Givanildo Costa. Ele teve que deixar sua casa no bairro do Bebedouro, vizinho ao Pinheiro. Ele diz que a situação abalou seu irmão, que tinha uma mecânica no Pinheiro. Com fechamento da loja, veio a tristeza e a depressão, o que piorou a situação da diabetes, que o levou à perda da visão.
“O meu irmão ficou em depressão porque ele tinha uma oficina que aqui no Bebedouro, ele tinha uma renda uns seis mil por mês, e [depois da mudança] chegou a ganhar nem um salário mínimo por mês, tudo por causa da Braskem. Está com depressão, diabetes, derrame, cego, só vê o vulto”.
Os dados da Defesa Civil apontam o afundamento da mina 18 em quase 2 metros de afundamento só nesta semana.
A Braskem confirma que pode ocorrer um grande desabamento da área, mas a mina também pode se acomodar. A Defesa Civil da prefeitura de Maceió pede que a população não circule pelas áreas de risco. A petroquímica diz que já foi pago R$ 3,7 bilhões em indenizações e auxílios financeiros para moradores e comerciantes desses bairros. Mas a única certeza, até o momento, é que parte da região continuará fantasma no meio da capital alagoana.
Fonte: EBC GERAL


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Prefeitura de SP constrói muro na Cracolândia para isolar área de usuários de drogas
A Prefeitura de São Paulo ergueu um muro na Cracolândia, localizada no Centro da cidade, com cerca de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura, delimitando a área onde usuários de drogas se concentram. A estrutura foi construída na Rua General Couto Magalhães, próxima à Estação da Luz, complementada por gradis que cercam o entorno, formando um perímetro delimitado na Rua dos Protestantes, que se estende até a Rua dos Gusmões.
Segundo a administração municipal, o objetivo é garantir mais segurança às equipes de saúde e assistência social, melhorar o trânsito de veículos na região e aprimorar o atendimento aos usuários. Dados da Prefeitura indicam que, entre janeiro e dezembro de 2024, houve uma redução média de 73,14% no número de pessoas na área.
Críticas e denúncias
No entanto, a medida enfrenta críticas. Roberta Costa, representante do coletivo Craco Resiste, classifica a iniciativa como uma tentativa de “esconder” a Cracolândia dos olhos da cidade, comparando o local a um “campo de concentração”. Ela aponta que o muro limita a mobilidade dos usuários e dificulta a atuação de movimentos sociais que tentam oferecer apoio.
“O muro não só encarcerou os usuários, mas também impediu iniciativas humanitárias. No Natal, por exemplo, fomos barrados ao tentar distribuir alimentos e arte”, afirma Roberta.
A ativista também denuncia a revista compulsória para entrada no espaço e relata o uso de spray de pimenta por agentes de segurança para manter as pessoas dentro do perímetro.
Impacto na cidade
Embora a concentração de pessoas na Cracolândia tenha diminuído, o número total de dependentes químicos não foi reduzido, como destaca Quirino Cordeiro, diretor do Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas. Ele afirma que, em outras regiões, como a Avenida Jornalista Roberto Marinho (Zona Sul) e a Rua Doutor Avelino Chaves (Zona Oeste), surgiram novas aglomerações.
Custos e processo de construção
O muro foi construído pela empresa Kagimasua Construções Ltda., contratada após processo licitatório em fevereiro de 2024. A obra teve custo total de R$ 95 mil, incluindo demolição de estruturas existentes, remoção de entulho e construção da nova estrutura. A Prefeitura argumenta que o contrato seguiu todas as normas legais.
Notas da Prefeitura
Em nota, a administração municipal justificou a construção do muro como substituição de um antigo tapume, visando à segurança de moradores, trabalhadores e transeuntes. Além disso, ressaltou os esforços para oferecer encaminhamentos e atendimentos sociais na área.
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) reforçou que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) atua na área com patrulhamento preventivo e apoio às equipes de saúde e assistência, investigando denúncias de condutas inadequadas.
A questão da Cracolândia permanece um desafio histórico para São Paulo, com soluções que, muitas vezes, dividem opiniões entre autoridades, moradores e ativistas.
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