POLITÍCA NACIONAL
Grupo de trabalho que discute semipresidencialismo vê avanços na redução do número de partidos
POLITÍCA NACIONAL

A maioria dos integrantes do grupo de trabalho da Câmara dos Deputados que analisa a adoção do semipresidencialismo no Brasil é contrária à necessidade de mudanças no sistema partidário antes da adoção de um novo sistema de governo. Eles também se opõem à realização de consulta popular. As avaliações foram feitas durante reunião desta quarta-feira (4).
Esse sistema prevê o compartilhamento de poder entre primeiro-ministro e presidente. O primeiro será eleito pelo Congresso Nacional e assumirá as funções de chefe de governo. Já o segundo será eleito pelo voto popular e assumirá as funções de chefe de Estado.
Um dos pontos em debate foi a necessidade de realizar uma reforma partidária para reduzir o número de partidos a fim de criar ambiente propício à adoção do semipresidencialismo, com maior coesão entre forças políticas.
Para o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e coordenador do conselho consultivo do GT, Nelson Jobim, não será necessário fazer esse tipo de reforma. O fim das coligações partidárias para disputas de cargos proporcionais (vereadores, deputados estaduais e distritais e deputados federais), que passou a valer para as eleições de 2018, segundo ele, já reduziu a fragmentação partidária de forma gradual e natural.
Ele explicou que a possibilidade de migrar para outros partidos, dada pela “janela partidária” em 2018, teve efeitos positivos em construir blocos de partidos com maior afinidade ideológica. “A redução da fragmentação partidária é um processo político que vai ocorrer nesta eleição e também na nova legislatura. Deixemos que o sistema partidário e o sistema eleitoral evoluam conforme for o processo”, disse.
O professor Matheus Carvalho também concordou que o sistema misto de governo pode reduzir a pulverização de partidos. “À medida que esse sistema incorpora o parlamentarismo, ele obrigará necessariamente a formação de uma maioria parlamentar ou de maiorias parlamentares que se sucedam”, disse. “Isso estimulará uma união entre partidos com mais força e eficácia do que simplesmente prescrições deste ou daquele ponto do funcionamento do sistema eleitoral”, completou.
Na mesma linha, o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), coordenador do GT, acredita que o sistema semipresidencialista em si já é eficaz contra o pluripartidarismo. “É uma vantagem do novo sistema conseguir avançar na diminuição de partidos, uma vez que vai haver uma base de apoio ao governo e outro de oposição. Com o tempo, você vai construindo uma diminuição de partidos”, afirmou.
O procurador do Distrito Federal Jorge Galvão também afirmou que a adoção do novo sistema de governo vai promover uma convergência de posições políticas, reduzindo o número de partidos. “As pessoas vão ter de se definir como governo ou oposição e isso vai trazer maior força aglutinadora para partidos com maior força política”, sustentou.

Único a divergir, o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP) avaliou que a adoção do sistema semipresidencialista não cria automaticamente um ambiente saudável entre partidos. “Se não mexer no sistema eleitoral, não lograremos a estabilização e a governabilidade que tantos almejamos com essa mudança de regime”, pontuou. Ele defendeu o fim do financiamento público de partidos ou a democratização de todos os partidos que recebem recursos públicos.
Consulta popular
Sobre a realização de consulta popular para mudar o atual sistema de governo, o professor Matheus Carvalho foi contrário. “Acho que isso está fora da nossa tradição, e não precisa nem sequer ser levado em consideração”, disse. “É uma questão extremamente complexa para ser submetida à consulta popular. Em que a maioria dos que vão deliberar não entenderão o que se discute”, completou.
O deputado Samuel Moreira avaliou no mesmo sentido: “Não vejo essa determinação na Constituição de que se faça o plebiscito”. Ele observou que o plebiscito realizado em 1993 estava previsto na Constituição de 88. “Se quiser fazer o plebiscito é preciso alterar a Constituição”, pontuou.
Nelson Jobim também foi contrário à consulta popular. Para ele, a realização de referendo ou plebiscito estimularia disputas políticas, sem entrar no mérito dos benefícios institucionais do modelo. “Não será um parlamentarismo que se estará discutindo, ou o modelo de governo, e sim os interesses pessoais de setores políticos”, disse.
Orleans e Bragança, por sua vez, discordou: “Eu temo que um dos problemas seja justamente esse medo do legislador de sondarem a população em termos complexos, na pretensão de que a população nunca está apta a ser consultada”, frisou.
Coabitação
Jobim observou ser impossível evitar o conflito político nos casos de “coabitação”, quando são eleitos presidente e primeiro-ministro de partidos distintos. Segundo ele, isso iria contra o ambiente de discussão democrática que se quer estabelecer.
“Não se pode evitar o problema da coabitação, porque, do contrário, teremos que estabelecer que o presidente eleito necessariamente teria maioria partidária na eleição parlamentar”, explicou.
O deputado Samuel Moreira acredita que o esclarecimento das atribuições pode contornar possíveis problemas de governabilidade. Ele disse que o tema já é tratado no anteprojeto de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) elaborado pelo grupo de trabalho.
“Na nossa proposta, estabelecemos uma calibragem, dando um pouco mais de força para o presidente da República em função da nossa tradição”, disse. “A transição para o semipresidencialismo é dar mais responsabilidade ao primeiro-ministro sobre a questão orçamentária, com o poder de veto mantido com o presidente”, completou.
Ambos mencionaram o sistema francês, pelo qual o presidente é eleito antes do primeiro-ministro como uma possível solução para os embates de coabitação.
Reportagem – Emanuelle Brasil
Edição – Roberto Seabra


GERAL
Trump assina tarifa de 50 % sobre todas as importações de produtos brasileiros para os Estados Unidos: confira como isso afeta o Brasil
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) um decreto que impõe tarifa de 50% sobre todas as importações de produtos brasileiros que entram no território americano. A medida entra em vigor no dia 1º de agosto e já causa forte reação entre produtores, exportadores e autoridades brasileiras.
A nova tarifa, que dobra o custo para empresas americanas que compram produtos brasileiros, representa uma mudança radical nas relações comerciais entre os dois países. Antes da medida, a maior parte desses produtos era taxada em cerca de 10%, dependendo do setor.
O que é essa tarifa e como funciona?
A tarifa anunciada por Trump não afeta compras feitas por consumidores brasileiros, nem produtos adquiridos por sites internacionais. Ela vale exclusivamente para produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, ou seja, aqueles enviados por empresas do Brasil para serem vendidos no mercado americano.
Isso significa que, se uma empresa brasileira exporta carne, café, suco ou qualquer outro item, ele chegará aos EUA com 50% de imposto adicional cobrado pelo governo americano.
Exemplo simples:
Para entender como isso afeta na prática, veja o exemplo abaixo:
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Imagine que você é um produtor de suco no Brasil e exporta seu produto aos EUA por R$100 por litro.
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Antes da tarifa, o importador americano pagava esse valor e revendia com lucro no mercado local.
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Com a nova medida, o governo dos EUA aplica 50% de tarifa. Ou seja, seu suco agora custa R$150 para o importador.
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Esse aumento torna o produto muito mais caro nos EUA, podendo chegar ao consumidor final por R$180 ou mais.
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Resultado: o importador pode desistir de comprar de você e buscar outro fornecedor — como México, Colômbia ou Argentina — que não sofre com essa tarifa.
Como isso afeta o Brasil?
A imposição dessa tarifa tem impactos diretos e sérios para a economia brasileira, especialmente no agronegócio e na indústria de exportação. Veja os principais efeitos:
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Queda na competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano.
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Quebra ou renegociação de contratos internacionais já assinados.
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Perda de mercado para concorrentes de outros países.
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Redução nas exportações, com consequências econômicas e sociais no Brasil (queda de faturamento, demissões, retração de investimentos).
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Pressão sobre o governo brasileiro para reagir com medidas diplomáticas ou tarifas de retaliação.
Quais produtos serão mais afetados?
A medida de Trump atinge todos os produtos brasileiros exportados aos EUA, mas os setores mais atingidos devem ser:
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Carnes bovina, suína e de frango
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Café
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Suco de laranja
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Soja e derivados
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Minério de ferro e aço
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Aeronaves e peças da Embraer
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Cosméticos e produtos farmacêuticos
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Celulose, madeira e papel
Brasil pode retaliar?
O governo brasileiro já sinalizou que poderá aplicar medidas de retaliação com base na Lei de Reciprocidade Comercial, aprovada neste ano. A ideia é aplicar tarifas semelhantes sobre produtos americanos exportados ao Brasil, mas isso depende de negociações diplomáticas e análise de impacto.
E o consumidor brasileiro, será afetado?
Neste primeiro momento, não. A medida de Trump não se aplica a compras feitas por brasileiros em sites estrangeiros, nem muda os impostos cobrados sobre importações pessoais.
O impacto é sobre o mercado exportador brasileiro, que depende das compras feitas por empresas americanas. No médio e longo prazo, porém, se os exportadores perderem espaço nos EUA e tiverem que vender mais no Brasil, os preços internos podem oscilar, tanto para baixo (excesso de oferta) quanto para cima (reajustes para compensar perdas).
A tarifa de 50% imposta por Trump é uma medida com alto potencial de desequilibrar o comércio entre Brasil e Estados Unidos. Empresas brasileiras correm o risco de perder contratos, mercado e receita. A decisão política tem impacto direto na economia real — do produtor de suco ao exportador de carne.
O governo brasileiro já avalia uma resposta, enquanto produtores tentam entender como seguir competitivos em um cenário que muda de forma drástica.