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Desafios para o segundo semestre

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Presidente da AMM 

Iniciamos o segundo semestre com a expectativa de avanços no atendimento da pauta municipalista. Há importantes projetos em tramitação no Congresso Nacional e uma das prioridades é a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 25/2022, que amplia em 1,5% o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

O repasse adicional é um pleito fundamental para o pagamento do piso da enfermagem, que vai causar grande impacto nas finanças municipais, considerando a limitação das prefeituras em atender mais essa demanda. Embora reconheçamos a legitimidade do aumento salarial da categoria, que merece ser valorizada devido à importância do trabalho que desenvolve, a dificuldade está no custeio da medida, cujo impacto vai afetar municípios de todo o país.

Outros projetos importantes estão relacionados ao Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), além de propostas ligadas à educação, como como piso salarial do magistério e universalização das creches, entre outros.

Teremos também a votação da reforma tributária no Senado, prevista para este segundo semestre, após aprovação na Câmara dos Deputados. Defendemos ampliar o debate sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC)  da reforma, considerando o impacto negativo na economia de Mato Grosso e outros estados do Centro-Oeste e Norte  que são grandes produtores de matéria prima de baixo valor agregado. Além disso, essas localidades estão longe dos principais centros consumidores e dos portos de exportação e tem uma logística de transporte muito precária, fatores que  encarecem o custo da produção.

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Como temos um baixo consumo e produzimos mais para exportação, Mato Grosso e outros estados com as mesmas particularidades serão prejudicados, principalmente se acabar a lei de incentivo fiscal. Essa medida vai desestimular as empresas já estabelecidas e atendidas pelo benefício, além de dificultar a instalação de novos empreendimentos interessados em investir em Mato Grosso.

A pauta é extensa, mas com organização, união e articulação do movimento municipalista será possível avançar nas propostas em tramitação no Congresso Nacional, a exemplo do que ocorreu no primeiro semestre que terminou com importantes conquistas.

A mais recente, consolidada no final de junho foi a sanção da Lei Complementar 198, de 2023, que cria um período de transição para evitar queda brusca no repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para as cidades que tiveram perda de população.

Participamos de várias reuniões e mobilizações em Brasília, com parlamentares, representantes do governo federal e da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), para reivindicar o avanço da proposta, que vai beneficiar municípios de Mato Grosso e de várias regiões do país.

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Além disso, tivemos a prorrogação da validade da Lei 8.666/93 até dezembro deste ano, o que vai garantir aos municípios maior segurança jurídica nos atos administrativos e possibilitar  a adoção de prazo mais compatível para os ajustes necessários à implementação da nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos.

O atendimento de novos pleitos nos próximos meses é uma prioridade do movimento municipalista que está em constante vigilância para viabilizar o encaminhamento de demandas. Com o apoio dos prefeitos e prefeitas, a AMM está pronta para defender os interesses institucionais dos municípios, enfrentar desafios e garantir novas conquistas para as gestões locais.

 

Neurilan Fraga é presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM)

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Efeito Cotribá: decisão inédita ameaça ou protege o agronegócio em Mato Grosso?

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A decisão inédita que concedeu à cooperativa gaúcha Cotribá uma proteção judicial semelhante à recuperação judicial (RJ), mesmo sem previsão legal expressa, tornou-se um dos episódios mais controversos do direito empresarial recente. E seus efeitos podem ir muito além das fronteiras do Rio Grande do Sul.

Em estados com forte presença do agronegócio, como Mato Grosso, o episódio acende um alerta: se um tribunal abriu a porteira para uma solução jurídica inédita, outros estados podem sentir-se estimulados a testar caminhos semelhantes.

Mato Grosso abriga algumas das maiores cooperativas, tradings e empresas do país. Seu ciclo econômico depende intensamente de crédito rural, armazenagem complexa, logística cara e cadeias produtivas altamente interligadas. Nesse ambiente, decisões que flexibilizam mecanismos de proteção financeira são observadas de perto, e podem rapidamente se transformar em estratégia.

Segundo levantamento da Serasa Experian, a inadimplência no agronegócio alcançou 8,1% no terceiro trimestre de 2025, o maior índice desde o início da série histórica, em 2022. Em muitos casos, as dívidas já ultrapassam 180 dias de atraso. O cenário reforça o estresse financeiro vivido pelo setor e ajuda a explicar por que precedentes como o da Cotribá repercutem tão fortemente no país.

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Para justificar sua decisão, em novembro de 2025, o juiz Eduardo Sávio Busanello argumentou que a Cotribá, embora juridicamente distinta de uma empresa, opera com porte, faturamento e estrutura equivalentes às grandes corporações do agro e que, portanto, mereceria acesso a instrumentos típicos da atividade empresarial. A tutela concedida suspendeu execuções, bloqueios e cobranças por 60 dias, dando fôlego ao caixa e permitindo que a cooperativa reorganizasse suas dívidas bilionárias.

O magistrado acolheu essa tese e, afastando o formalismo da lei, aplicou por analogia os mecanismos da recuperação judicial, invocando princípios como a preservação da empresa e a função social da atividade econômica — aqueles que, na prática, parecem servir tanto para justificar decisões inovadoras quanto para críticas por suposta elasticidade interpretativa.

Se, por um lado, a medida foi celebrada como forma de evitar um colapso que poderia arrastar produtores, funcionários e fornecedores, por outro, reacendeu o debate sobre ativismo judicial, insegurança jurídica e incentivos potencialmente perversos. Afinal, cooperativas sempre estiveram fora do alcance da RJ por determinação legal, e flexibilizar essa barreira pode gerar efeitos inesperados em outros estados.

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Em um contexto de seca, quebras de safra e oscilações violentas de preços, fenômenos frequentes no Centro-Oeste, o Judiciário pode ser acionado tanto como instrumento de sobrevivência quanto como ferramenta estratégica de renegociação. Para Mato Grosso, isso pode representar, simultaneamente, uma rede de proteção em momentos críticos e uma nova camada de incerteza no já complexo ambiente de crédito do agronegócio.

O “Efeito Cotribá” não é apenas um debate jurídico: é um sinal de que o mapa de riscos do agronegócio está mudando. Se decisões semelhantes começarem a se replicar, Mato Grosso pode se tornar palco dos próximos capítulos dessa história, seja como protagonista de soluções emergenciais, seja como vítima da insegurança que precedentes ousados podem gerar.

No fim, o caminho dependerá de como o Judiciário brasileiro lidará com esse novo “campo minado”: criativo o suficiente para oferecer soluções inéditas, mas perigoso demais para ser pisado sem cautela.

Felipe Iglesias é advogado e especialista em Direito Empresarial, à frente do Iglesias Advogados, referência no Mato Grosso em recuperação litigiosa de créditos em recuperação judicial

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