MATO GROSSO
ONU: crise climática e desmate ameaçam futuro da Amazônia
MATO GROSSO
FABIANO MAISONAVE
DA FOLHAPRESS
Uma Amazônia com campos avançando sobre a floresta, alta mortalidade de árvores, secas intensas, chuvas extremas, incêndios florestais mais frequentes, perda de biodiversidade e emissão de gás carbônico maior do que a capacidade de absorção.
Tudo isso já está ocorrendo, mas tende a se acelerar ainda mais caso as mudanças climáticas globais e o avanço do desmatamento, ambos resultados da ação humana, não sejam contidos, adverte o segundo volume do sexto relatório do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU, divulgado nesta segunda-feira (28).
A Amazônia ocupa um lugar de destaque no estudo, realizado por 270 cientistas de todo o mundo. Para analisar a situação da maior floresta tropical do mundo, o IPCC se baseou em dezenas de artigos acadêmicos sobre a crise climática na região tanto para descrever impactos já verificados quanto para projetar cenários climáticos.
No geral, o IPCC aponta uma combinação explosiva entre as mudanças climáticas globais, provocadas pela emissão de gases de efeito estufa, e os efeitos provocados pela expansão agropecuária e a abertura de estradas, que provocam a fragmentação e a degradação da floresta no entorno.
“Na Amazônia, o desmatamento exerce uma influência sobre incêndios florestais que pode ser mais forte do que a mudança climática”, diz o relatório.
Foi o caso dos incêndios florestais em Roraima entre 2015 e 2016, quando a seca severa provocada por um “super El Niño”, associada ao aumento de estradas e áreas desmatadas, provocaram a maior queimada registrada nessa região da Amazônia.
Em poucas semanas, o estado perdeu até 14 mil km2, ou 9% de sua cobertura vegetal.
Esses incêndios se tornaram mais frequentes no passado recente e tendem a continuar aumentando, mas o desmatamento fomentado pela agropecuária continua sendo a principal causa de mortalidade de árvores. Entre 1988 e 2020, a cobertura florestal reduziu, em média, 13.900 km2 ao ano na Amazônia brasileira, de acordo com o relatório.
A consequência é que, de 2003 a 2008, a Amazônia como um todo passou de “sumidouro” a emissora de gás carbônico, um dos gases do efeito estufa.
Em quatro lugares específicos, a Amazônia também apresentou emissões de carbono entre 2010 e 2018, em razão de desmatamento e de incêndios.
O relatório adverte de que o aumento do fogo, do desmatamento e das secas pode levar à conversão de até metade da floresta amazônica em campo, “um ponto de virada que pode liberar uma quantidade de carbono que aumentaria substancialmente as emissões globais”.
“Além de causar emissões imediatas de gás carbônico, as queimadas constantes induzem mudanças na vegetação, com perda enorme de biodiversidade e alteração substancial na sua estrutura, reduzindo a capacidade natural da floresta em estocar e reciclar nutrientes. Manter grandes áreas de floresta intacta é fundamental para preservar a biodiversidade e controlar o fogo na região”, afirma a ecóloga Ima Vieira, do Museu Goeldi, de Belém.
“A maior mudança seria no que é a Amazônia hoje: um bioma eminentemente florestal. Ao alterar as condições climáticas, o ciclo hidrológico, a umidade e a biodiversidade, são afetadas a funcionalidade e a sobrevivência da floresta. Já há estudos mostrando que o leste e sul do Pará estão na iminência de cruzar um ponto crítico que as conduzirá à rápida conversão em uma formação vegetal constituída por arbustos, gramíneas e árvores de médio e pequeno portes”, completa a pesquisadora.
Pavimentação
Para pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) Flávia Costa, a possível pavimentação da BR-319, entre Manaus a Rondônia, obra impulsionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), traz o risco de levar a degradação e a fragmentação florestal a um dos lugares mais intactos da Amazônia. “Isso é um grande perigo para a manutenção do potencial de absorção de carbono”, afirma.
Por outro lado, Costa afirma que os efeitos das mudanças climáticas são bastante heterogêneos sobre a Amazônia, uma região bastante variada em ambientes. Segundo ela, há outros aspectos que precisam de mais estudos, como a função dos lençóis freáticos na captura de carbono, presentes em 50% de toda a região.
“Há regiões com lençol freático superficial, ainda pouco estudadas, que podem estar funcionando como sumidouro de carbono durante as secas, mas isso ainda não foi quantificado. Meu grupo de pesquisa está se debruçando sobre este aspecto do funcionamento da Amazônia para determinar se esta função de sumidouro está de fato acontecendo.”
Diante desse quadro de crise climática, as políticas do Estado brasileiro vão na direção contrária das diretrizes que o relatório do IPCC aponta, segundo Ima Vieira.
“Não há políticas climáticas bem definidas no Brasil. Vimos, ainda, as políticas públicas de controle de desmatamento e queimadas, de reforma agrária, e de gestão de áreas protegidas sendo desmanteladas e/ou descontinuadas”, afirma.
“Observa-se, desde 2017, um aumento expressivo do desmatamento, de grilagem de terras públicas e de ameaças à integridade das áreas protegidas, principalmente na Amazônia. Tudo isso colabora para o acirramento da crise climática.”


MATO GROSSO
Mais de 17,6 mil pessoas com deficiência comandam negócios próprios em Mato Grosso

Cerca de 17,6 mil pessoas com deficiência (PCD) têm o próprio negócio em Mato Grosso, segundo pesquisa do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de Mato Grosso (Sebrae/MT). O levantamento, realizado neste ano, mostra que esses empreendedores representam 3,6% do total de empresários mato-grossenses, com predominância de pessoas com limitações motora (36,7%), visual (34%) e auditiva (29,3%).
O estudo aponta que os empreendedores PCD apresentam elevado nível de escolaridade: 46,9% concluíram o ensino médio e 38,1% têm ensino superior - índice superior à média estadual. A faixa etária predominante está entre 35 e 44 anos (39,5%), seguida por 45 a 54 (22,4%). O grupo é formado majoritariamente por homens (57%). No recorte racial, há equilíbrio entre pardos (36,7%) e brancos (34%), seguidos por pretos (19%).
A maioria é casada (57,1%) e tem filhos (91,2%), o que reforça a importância da renda do próprio negócio para a estrutura familiar.
No campo econômico, os empresários com algum tipo de limitação atuam em diversos setores. O comércio concentra 31,3% dos negócios, seguido por serviços (25,2%), indústria (21,8%) e tecnologia (14,3%). Moda (17,7%), cosméticos (15%) e alimentação (14,3%) estão entre os principais segmentos.
A formalização é alta: 85,7% possuem CNPJ, sendo a maioria registrada como microempresa (48,4%) ou empresa de pequeno porte (32,5%). Além disso, 70% atuam há mais de três anos e quase metade emprega de dois a cinco colaboradores, o que demonstra maturidade e estrutura consolidada.
Dificuldades
As motivações que levam pessoas com deficiência a empreender mesclam necessidade e realização pessoal. Para 40,8%, a decisão está ligada à necessidade financeira, enquanto 34% enxergam oportunidades de mercado e 32% buscam autonomia. A frustração com o mercado de trabalho tradicional (23,1%) e o desejo de realizar um sonho (15%) também aparecem com destaque.
As mulheres tendem a empreender mais por necessidade (54%), enquanto os homens se movem principalmente pela percepção de oportunidade (48,8%).
Na jornada empreendedora, os desafios enfrentados são múltiplas e revelam tanto desafios estruturais quanto específicos. Burocracia (44%), concorrência acirrada (39%) e falta de capital inicial (33%) estão entre as principais dificuldades. Além disso, 21% relataram barreiras diretamente ligadas à deficiência, como acessibilidade e preconceito, e 22% mencionaram dificuldades para equilibrar a vida pessoal e profissional.
Entre as mulheres, questões de gênero e maternidade ganham relevância, enquanto os homens apontam custos e juros elevados como maiores obstáculos.
“O Sebrae apoia todos os empreendedores, porque acredita que o empreendedorismo é um caminho de inclusão e autonomia para todas as pessoas, independentemente de suas condições. Quando um empreendedor PCD empreende, ela inspira e transforma o seu entorno”, afirma Liliane Moreira, analista técnica do Sebrae/MT. “A inclusão produtiva das pessoas com deficiência é uma questão de equidade e também de fortalecimento da economia, pois amplia talentos, gera inovação e promove uma sociedade mais justa”.
Dados da pesquisa
O levantamento foi realizado entre 3 e 31 de janeiro de 2025, por meio de entrevistas telefônicas, com 147 empreendedores (formais e informais) que possuam alguma deficiência no estado de Mato Grosso. O estudo apresenta uma taxa de confiança de 95% e margem de erro de 4%.
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