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Bordado filé sobrevive nas cores de Alagoas
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Entre linhas, agulhas de madeira e histórias, o Caminhos da Reportagem percorre as tramas coloridas da Região das Lagoas Mundaú e Manguaba, em Alagoas, reconhecida como Indicação Geográfica do bordado filé.
Ensinado pelos europeus no período colonial, o bordado filé foi incorporado pelas mulheres locais e se tornou um símbolo do estado. Se no velho continente o artesanato é monocromático, sendo mais comum em branco ou bege, no Brasil, ganhou todas as cores.
Na família da artesã Lourdes Gama, a filha Sandra e a neta Kaillane aprenderam com ela a bordar e a fazer da atividade uma fonte de renda. “Eu já sou aposentada, então a minha complementação é o filé. Tem mulheres que criam a família inteira somente com a renda do filé,” diz dona Lourdes.
Filé, traduzido do francês “filet”, significa rede. E, no caso do artesanato, é um bordado feito sobre uma rede semelhante à da pesca. Não é por acaso que este tipo de trabalho está presente em comunidades pesqueiras, explica o antropólogo Bruno Cavalcanti, professor da Universidade Federal de Alagoas, responsável pelas pesquisas que fundamentaram o reconhecimento do bordado filé como Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas e depois o registro da região como Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
O bordado e a pesca são atividades essenciais para a sobrevivência da população do Complexo Estuarino das Lagoas Mundaú-Manguaba, formado por seis municípios: Maceió, Marechal Deodoro, Pilar, Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Satuba. “Nós encontramos em outras partes do estado produtores de filé e mesmo em outras partes do Nordeste, mas numa escala não comparável com aquela que a gente encontra nos municípios que estão no entorno dessas duas lagoas,” explica o antropólogo.
Segundo Cavalcanti, o peso do bordado no orçamento das famílias vem aumentando em função do incremento do turismo e da queda do rendimento da pesca provocada principalmente pela poluição das lagoas. “A lagoa está secando. Aqui onde nós estamos passava a lancha que ia para Marechal Deodoro, hoje em dia a gente tá em cima da areia”, diz o pescador José Rosalvo dos Santos. Ele e a mulher, Rosiene da Silva Ramos, saem juntos para pescar e catar mariscos na Lagoa Mundaú, no bairro Pontal da Barra, em Maceió. Quando voltam da água, ele tece com o nylon uma nova tarrafa. Rosiene borda e engoma toalhas, colchas, entre outras peças.
Assim como Rosiene, muitas bordadeiras encomendam as redes que servem de suporte para o bordado no município de Coqueiro Seco, de 6 mil habitantes. Jedivan do Nascimento Silva, de 72 anos, é umas das poucas que ainda fazem a rede da forma tradicional, mais trabalhosa. A artesã enrola a linha de algodão no dedão do pé para começar a tecer e quando a malha atinge 30 centímetros passa o trabalho para outro tipo de suporte, que pode ser o encosto da cadeira.
As bordadeiras perceberam que precisavam se unir quando viram o ganha pão ameaçado com a chegada às feiras de artesanato do bordado de outras regiões, feito com material mais barato e menos durável, conta Petrucia Lopes. “As artesãs estavam deixando de fazer nosso filé original com pontos variados, como as avós faziam, para poder fazer esse filé que vinha de fora e vender para o turista”, explica Petrúcia.
Com a assessoria do Sebrae, elas criaram o Instituto do Bordado Filé de Alagoas, o Inbordal, e batalharam pelo reconhecimento da IG. Em meio a esse processo organizaram o Caderno de Instruções do Filé, que reúne os critérios para se fazer um bom e autêntico bordado. As artesãs levantaram uma grande variedade de pontos, cujos nomes são bastante singulares, como besourinho, jasmim, olho de pombo, caneludo, entre outros.
Junto com as artesãs, a arquiteta Marta Melo, que é designer de produto e consultora do Sebrae, busca a valorização do filé e a abertura de novos mercados. Como resultado de parcerias e oficinas, elas criaram a coleção Duas Lagoas e uma Ilha, inspirada nas cores das águas, do céu, do mangue e das casas históricas da região. “A ideia é que essas coleções levem o ambiente, a região geográfica onde elas moram e que elas passem também a assumir essa identidade com muito orgulho,” afirma Melo.
Maylda Cristina Soares da Silva, presidente do Inbordal, conta que a partir da IG as artesãs conseguiram melhores preços na venda dos produtos. Como exemplo, ela cita uma experiência pessoal. Quando teve a casa inundada nas enchentes que afetaram a cidade este ano, pôde repor os móveis e eletrodomésticos que haviam estragado “graças ao dinheiro do filé”, revela.
Faz parte da estratégia do Inbordal repassar o saber ancestral para as novas gerações. As oficinas de bordado reúnem adolescentes de escolas públicas. Algumas já sabem bordar e só querem tirar dúvidas, enquanto outras começam do zero. “Pra mim é muito importante passar esse trabalho para que ele não morra porque foi através dele que a minha mãe ajudou bastante a minha família e deixou esse legado pra gente,” diz a professora Lucineide Sena.
O programa vai ao ar no dia 04 de dezembro às 22h na TV Brasil.
Edição: Fábio Massalli
Fonte: EBC Geral


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Prefeitura de SP constrói muro na Cracolândia para isolar área de usuários de drogas
A Prefeitura de São Paulo ergueu um muro na Cracolândia, localizada no Centro da cidade, com cerca de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura, delimitando a área onde usuários de drogas se concentram. A estrutura foi construída na Rua General Couto Magalhães, próxima à Estação da Luz, complementada por gradis que cercam o entorno, formando um perímetro delimitado na Rua dos Protestantes, que se estende até a Rua dos Gusmões.
Segundo a administração municipal, o objetivo é garantir mais segurança às equipes de saúde e assistência social, melhorar o trânsito de veículos na região e aprimorar o atendimento aos usuários. Dados da Prefeitura indicam que, entre janeiro e dezembro de 2024, houve uma redução média de 73,14% no número de pessoas na área.
Críticas e denúncias
No entanto, a medida enfrenta críticas. Roberta Costa, representante do coletivo Craco Resiste, classifica a iniciativa como uma tentativa de “esconder” a Cracolândia dos olhos da cidade, comparando o local a um “campo de concentração”. Ela aponta que o muro limita a mobilidade dos usuários e dificulta a atuação de movimentos sociais que tentam oferecer apoio.
“O muro não só encarcerou os usuários, mas também impediu iniciativas humanitárias. No Natal, por exemplo, fomos barrados ao tentar distribuir alimentos e arte”, afirma Roberta.
A ativista também denuncia a revista compulsória para entrada no espaço e relata o uso de spray de pimenta por agentes de segurança para manter as pessoas dentro do perímetro.
Impacto na cidade
Embora a concentração de pessoas na Cracolândia tenha diminuído, o número total de dependentes químicos não foi reduzido, como destaca Quirino Cordeiro, diretor do Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas. Ele afirma que, em outras regiões, como a Avenida Jornalista Roberto Marinho (Zona Sul) e a Rua Doutor Avelino Chaves (Zona Oeste), surgiram novas aglomerações.
Custos e processo de construção
O muro foi construído pela empresa Kagimasua Construções Ltda., contratada após processo licitatório em fevereiro de 2024. A obra teve custo total de R$ 95 mil, incluindo demolição de estruturas existentes, remoção de entulho e construção da nova estrutura. A Prefeitura argumenta que o contrato seguiu todas as normas legais.
Notas da Prefeitura
Em nota, a administração municipal justificou a construção do muro como substituição de um antigo tapume, visando à segurança de moradores, trabalhadores e transeuntes. Além disso, ressaltou os esforços para oferecer encaminhamentos e atendimentos sociais na área.
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) reforçou que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) atua na área com patrulhamento preventivo e apoio às equipes de saúde e assistência, investigando denúncias de condutas inadequadas.
A questão da Cracolândia permanece um desafio histórico para São Paulo, com soluções que, muitas vezes, dividem opiniões entre autoridades, moradores e ativistas.
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