DRAMA FAMILIAR
“Cuidar de um parente com Alzheimer pode levar à depressão”
MATO GROSSO
om o esquecimento de tarefas simples do dia a dia, vem também a preocupação com o funcionamento cognitivo do cérebro. Quando se chega aos 60 anos, essa preocupação atinge uma nova dimensão: o medo do Alzheimer.
Estigmatizado entre idosos e familiares, a doença é uma das inúmeras formas de demência cognitiva que podem acometer a pessoa.
Segundo o membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), o médico Anderson Kuntz, a doença atinge a capacidade de gerar memórias recentes, como por exemplo lembrar de tarefas do dia a dia.
“O Alzheimer não é uma dificuldade na atenção. Ele está relacionado a dificuldade de formar memórias novas. Então, é normal que os pacientes percam as lembranças do dia a dia, como por exemplo não lembrarem o que comeram hoje mas lembram o que fizeram há 10 anos” , afirma.
Em conscientização ao mês Setembro Lilás, destinado a prevenção da doença do Alzheimer, o médico especialista em neurologia Anderson realizou, em parceria com a clínica Memória Afiada, na quarta-feira (20) um bate-papo para abordar o tratamento da doença.
Em entrevista ao MídiaNews, Anderson Kuntz desmistifica questões relacionadas à doença e aborda a importância do tratamento pisocológico para a família e para os pacientes diagnosticados com a demência.
MidiaNews – Setembro é considerado o mês de prevenção ao Alzheimer. Mas afinal, como prevenir essa doença?
Anderson Kuntz – Setembro é o mês relacionado ao Alzheimer porque é uma questão que chama muita atenção, mas é importante que as pessoas entendam que o Alzheimer é apenas uma forma de demência e é a principal causa da alteração que envolve a formação e a evocação da memória. O Alzheimer representa cerca de 60% dos casos de demência, mas não é a única causa. Mas hoje nós não dispomos, ainda, de uma forma de não desenvolver a doença se você tiver algum fator de pré-disposição. Podemos apenas retardar o aparecimento dela. Então o principal fator para retardar é a melhora na qualidade de vida, como a alimentação saudável, a diminuir ou até mesmo evitar o consumo de bebidas alcoólicas, evitar o uso de tabagismo e, principalmente, controlar determinados fatores, como hipertensão, diabetes, audição do idoso, que podem levar a doença de Alzheimer.

Hoje não é incomum fazer o diagnóstico com pessoas com menos de 60 anos.
MídiaNews – E por que a audição do idoso é um fator de risco? Como isso ocorre?
Anderson Kuntz – Porque, na realidade, quando o paciente é idoso, ele começa a ter problemas de audição e isso acaba o deixando mais isolado e com dificuldades de relacionamentos sociais. Isso, consequentemente, leva a uma menor formação de conexões entre os neurônios e acaba desenvolvendo um fator de risco para a demência e para o Alzheimer.
MidiaNews – O senhor citou a alimentação. Esse fator somado a exercicios físicos auxiliam no processo de retardação do aparecimento?
Anderson Kuntz – Sim, porque está relacionado à qualidade de vida. E como nós temos algumas demências que podem ser causadas por alterações vasculares, você pode evitar [o aparecimento delas] por meio do controle de fatores de risco. Você não consegue evitar o aparecimento se tiver fatores de risco, mas pode retardar a idade e a intensidade em que a doença vai se manifestar. A qualidade de vida funciona como um fator de proteção para a grande maioria das demências.
MidiaNews – E existe algum perfil ou idade em que as pessoas têm mais propeção?
Anderson Kuntz – Normalmente a faixa etária mais comum é a partir dos 60 ou 70 anos de idade. Particularmente, na doença de Alzheimer, nós percebemos que ela tem se apresentado mais cedo. Há 30 anos, quando me formei, era normal pensar que pacientes de Alzheimer tinham mais de 70 anos de idade, mas hoje não é incomum fazer o diagnóstico com pessoas com menos de 60 anos. Mas ainda não sabemos por que essas características estão se manifestando mais cedo.
MidiaNews – Quem tem mais risco de desenvolver a doença: homens ou mulheres?
Anderson Kuntz – Hoje não, a doença de Alzheimer não tem essa predominância entre homens e mulheres.

O Alzheimer não é só perda de memória, mas isso é o que mais chama atenção
MidiaNews – E como podemos diferenciar o Alzheimer dos outros tipos de doença cognitiva?
Anderson Kuntz – Nós fazemos uma bateria de testes e análises. Mas atualmente o Alzheimer não tem um tratamento que consiga bloqueá-lo, porque mesmo com os tratamentos disponíveis, a doença continua avançando aos poucos. Eu uso como um exemplo que o tratamento é um freio que não para o carro. Mas existem outras formas de demência que são tratáveis e que o tratamento é eficaz, por isso eu preciso de um diagnóstico diferencial. Toda vez que pego um paciente que vem ao consultório com uma queixa de alteração de memória, preciso fazer um diagnóstico diferenciado, pois devo afastar todas as outras possibilidades de demência.
MidiaNews – E como é feito o diagnóstico?
Anderson Kuntz – O primeiro ponto a avaliar é o diagnóstico por meio da família, porque às vezes o paciente não percebe essas as mudanças comportamentais. Então, você deve escutar o paciente e os familiares que convivem com ele. A partir dessa ação você levanta dados e verifica se o paciente tem histórico com tabagismo, bebidas, entre outros. Nós também fazemos um teste de rastreio que muda conforme a escolaridade do paciente. E aí, conforme o resultado, se ele está abaixo do valor esperado, nós acendemos um alerta.
MidiaNews – E por que o Alzheimer não tem cura?
Anderson Kuntz – Essa é uma questão em que existem mais perguntas do que respostas. O que se sabe é que envolve a disposição de uma substância chamada proteína betamiloide. Essa é uma proteína que todos nós produzimos, mas o problema é que com o Alzheimer essa proteína tem determinadas características que levam a um acúmulo no sistema nervoso, que não consegue eliminá-la. Agora estamos tentando entender por que existe este acúmulo maior em pacientes com Alzheimer. Além disso, temos uma outra degeneração chamada taupatia, que é a degeneração do neurônio. O motivo específico é que existe uma pré-disposição genética, mas isso não significa que você terá o Alzheimer de forma genética. Talvez hoje o surgimento esteja muito relacionado ao padrão alimentar, como o uso excessivo de ultraprocessados, e a fatores de risco como hipertensão e tabagismo, que podem servir de gatilho para desencadear a doença. Mas, no geral, é exatamente por não sabermos o motivo que ela se desenvolve que nós não temos os tratamentos adequados ainda.
MidiaNews – As pessoas associam o Alzheimer à perda de memória, mas há outro sintoma desta doença?
Anderson Kuntz – Sim, o Alzheimer não é só perda de memória, mas isso é o que mais chama atenção. Os pacientes com Alzheimer podem ter alterações de comportamento e quadros de agressividade. Por esse motivo é exigida a compreensão da família, já que determinados comportamentos que eles podem apresentar são devidos a doença e não porque eles são rebeldes e querem se comportar daquela forma.
MidiaNews – Qual é a grande precoupação da família quando recebe o dignóstico de que o paciente tem Alzheimer?
Anderson Kuntz – Além da preocupação sobre como vai ser a evolução da doença no decorrer do tempo, umas das grandes preocupações da família é se eles correm o risco de ter a doença, já que ela está ligada à pré-disposição genética. Quando mencionamos o termo genética, dá a impressão que todos vão ter, quando na verdade, precisa-se de outros casos na mesma família para se avaliar a pré-disposição genéica. Mas a maior preocupação e angústia da família é exatamente por ainda não dispormos de uma medicação que consiga, no mínimo, parar a doença.

Quando a gente trata o Alzheimer devemos tratar a família também, porque a família toda fica doente
MidiaNews – E como a família pode contribuir para o processo de tratamento?
Anderson Kuntz – Principalmente com a criação de um ambiente familiar harmonioso. A família precisa entender que é uma doença progressiva e deve aceitar determinados comportamentos e dificuldades que a pessoa pode apresentar. Eles devem tentar manter esse paciente no seio famliar o máximo de tempo possível, porque isso serve como fator para diminuir a progressão da doença. Quando a gente trata o Alzheimer, devemos tratar a família também, porque a família toda fica doente. Essa é uma situação complexa no qual você vai vendo a transformação de uma pessoa que você conhecia em outra pessoa completamente diferente. Tanto no ponto de vista comportamental, quanto social. Uma coisa que recomendo é manter o paciente dentro de casa com a família, mas manter, também, cuidadores que não devem ser do círculo familiar, pois naturalmente essa pessoa [da família] pode desenvolver depressão. É preciso que alguém de fora dê suporte em alimentação e cuidado, enquanto a família dá apoio e afeto. Contudo nós sabemos que na atual conjuntura econômica isso é difícil e, no final, alguém da família acaba assumindo esse cuidado.
MidiaNews – E de que modo pode ser reduzido esse sofrimento com a família?
Anderson Kuntz – Aqui entra muito o trabalho psicológico, pois a família deve entender o cenário. É muito difícil para as pessoas que passaram a vida inteira obedecendo seu pai ou sua mãe entenderem que agora eles exercem o papel de mãe da sua mãe ou pai da sua mãe. Isso gera uma dificuldade muito grande, que acaba gerando ao familiar um quadro de depressão. Tratar Alzheimer não é só um trabalho da gerontologia ou do neurologista. Envolve todo um trabalho de fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos. O apoio psicológico auxilia para minimizar ao máximo as dificuldades e os conflitos que uma doença degenerativa leva a uma família. É sempre um baque, porque além do fator emocional, há também a questão financeira, porque mesmo que os pacientes já estão aposentados, os valores são baixos e a doença demanda de uma série de cuidados muito caros.
MidiaNews – E existe algum apoio pelo sistema único de saúde?
Anderson Kuntz – Sim, o Sistema Único de Saúde fornece toda a medicação. Você pode pegar pelas farmácias de baixo custo. Mas hoje a maior dificuldade para o tratamento é o acompanhamento psicológico e as terapias ocupacionais. A medicação, não. Embora não seja a ideal, ela é fornecida pelo SUS.


MATO GROSSO
Mais de 17,6 mil pessoas com deficiência comandam negócios próprios em Mato Grosso

Cerca de 17,6 mil pessoas com deficiência (PCD) têm o próprio negócio em Mato Grosso, segundo pesquisa do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de Mato Grosso (Sebrae/MT). O levantamento, realizado neste ano, mostra que esses empreendedores representam 3,6% do total de empresários mato-grossenses, com predominância de pessoas com limitações motora (36,7%), visual (34%) e auditiva (29,3%).
O estudo aponta que os empreendedores PCD apresentam elevado nível de escolaridade: 46,9% concluíram o ensino médio e 38,1% têm ensino superior - índice superior à média estadual. A faixa etária predominante está entre 35 e 44 anos (39,5%), seguida por 45 a 54 (22,4%). O grupo é formado majoritariamente por homens (57%). No recorte racial, há equilíbrio entre pardos (36,7%) e brancos (34%), seguidos por pretos (19%).
A maioria é casada (57,1%) e tem filhos (91,2%), o que reforça a importância da renda do próprio negócio para a estrutura familiar.
No campo econômico, os empresários com algum tipo de limitação atuam em diversos setores. O comércio concentra 31,3% dos negócios, seguido por serviços (25,2%), indústria (21,8%) e tecnologia (14,3%). Moda (17,7%), cosméticos (15%) e alimentação (14,3%) estão entre os principais segmentos.
A formalização é alta: 85,7% possuem CNPJ, sendo a maioria registrada como microempresa (48,4%) ou empresa de pequeno porte (32,5%). Além disso, 70% atuam há mais de três anos e quase metade emprega de dois a cinco colaboradores, o que demonstra maturidade e estrutura consolidada.
Dificuldades
As motivações que levam pessoas com deficiência a empreender mesclam necessidade e realização pessoal. Para 40,8%, a decisão está ligada à necessidade financeira, enquanto 34% enxergam oportunidades de mercado e 32% buscam autonomia. A frustração com o mercado de trabalho tradicional (23,1%) e o desejo de realizar um sonho (15%) também aparecem com destaque.
As mulheres tendem a empreender mais por necessidade (54%), enquanto os homens se movem principalmente pela percepção de oportunidade (48,8%).
Na jornada empreendedora, os desafios enfrentados são múltiplas e revelam tanto desafios estruturais quanto específicos. Burocracia (44%), concorrência acirrada (39%) e falta de capital inicial (33%) estão entre as principais dificuldades. Além disso, 21% relataram barreiras diretamente ligadas à deficiência, como acessibilidade e preconceito, e 22% mencionaram dificuldades para equilibrar a vida pessoal e profissional.
Entre as mulheres, questões de gênero e maternidade ganham relevância, enquanto os homens apontam custos e juros elevados como maiores obstáculos.
“O Sebrae apoia todos os empreendedores, porque acredita que o empreendedorismo é um caminho de inclusão e autonomia para todas as pessoas, independentemente de suas condições. Quando um empreendedor PCD empreende, ela inspira e transforma o seu entorno”, afirma Liliane Moreira, analista técnica do Sebrae/MT. “A inclusão produtiva das pessoas com deficiência é uma questão de equidade e também de fortalecimento da economia, pois amplia talentos, gera inovação e promove uma sociedade mais justa”.
Dados da pesquisa
O levantamento foi realizado entre 3 e 31 de janeiro de 2025, por meio de entrevistas telefônicas, com 147 empreendedores (formais e informais) que possuam alguma deficiência no estado de Mato Grosso. O estudo apresenta uma taxa de confiança de 95% e margem de erro de 4%.
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