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Bonecas de pano trazem referências às matriarcas do samba

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Enquanto manuseava carreteis, linhas e agulhas, a mente de Gabriela Sarmento vagava à procura de um tema para o trabalho de conclusão do curso de Belas Artes, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). E aí, veio a ideia de juntar três elementos centrais na formação da própria identidade: a costura, o carnaval e a cultura negra. O TCC entregue em 2021 tratou das roupas usadas pelas baianas nas escolas de samba do Rio de Janeiro, uma das alas mais tradicionais da Sapucaí. Além da parte teórica, ela apresentou uma boneca de pano com fantasia de baiana inspirada nos tempos mais remotos da folia.

O projeto foi além do diploma: hoje ela confecciona e vende as bonecas na internet. Elas têm 30 cm de altura, podem ser personalizadas nas cores de todas as escolas de samba e custam R$ 80. 

“Dentro da faculdade de Artes, eu sentia essa necessidade de falar sobre arte brasileira e indumentárias a partir de uma ótica que não fosse europeia. Eu não via nada sobre isso nas disciplinas que cursava. Então, decidi pelo tema para mergulhar um pouco mais nesse universo e fazer uma crítica com relação a essa ausência no curso”, recorda. “Quando eu comprei a minha primeira máquina de costura e passei a produzir um pouco mais, tive a ideia de fazer uma boneca de pano a mão. Eu não queria que fosse uma boneca de plástico, tipo uma Barbie, porque achava que ela não teria a estética que eu gostaria”.

A estética escolhida por Gabriela Sarmento, que hoje tem 27 anos e mora em Realengo, zona oeste da cidade, traz referências de uma cultura ancestral e diaspórica. As bonecas negras de pano com vestes tradicionais remetem às raízes africanas, aos costumes das mulheres que foram escravizadas e trazidas para a América portuguesa e, finalmente, aos trajes das “tias baianas”. Estas últimas eram recém-libertas e costumavam trabalhar como cozinheiras e vendedoras de quitutes pelas ruas do país no fim do século 19 e início do 20.

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No Rio de Janeiro, as casas de muitas delas passaram a ser lugares de reunião, onde aconteciam cultos de religiões afro-brasileiras, rodas de capoeira e ensaios de música. O samba nasceu em ambientes como esses. Por isso, é comum dar a elas o título de “matriarcas do samba”. Esse reconhecimento veio a partir de alas específicas em blocos e ranchos carnavalescos, e nas agremiações que começaram a desfilar na virada da década de 1920 para a de 1930. E continua até os dias atuais: as baianas compõe uma ala obrigatória do carnaval carioca.

De lá para cá, as fantasias passaram por uma série de modificações. O processo de modernização começou na década de 1960. A partir da base tradicional, foram inseridos novos elementos de acordo com a criatividade do carnavalesco. Hoje, as fantasias podem pesar até 15kg. Bem diferente do que era no passado.

Para chegar a um resultado mais fiel do que eram as vestimentas tradicionais, Gabriela pesquisou referências bibliográficas e entrevistou baianas mais experientes. Uma delas foi a Tia Nilda, que estreou na função em 1979 na Mocidade Independente de Padre Miguel. Ela lembrou que a fantasia tradicional incluía apenas turbante, pulseiras, uma bata leve e, por baixo, uma anágua com conduíte.

Para a Gabriela, as bonecas são mais do que objetos decorativos. Funcionam como suporte material de uma cultura construída historicamente por mulheres negras que deve ser preservada. Ela defende que os carnavalescos deem maior protagonismo às baianas que desfilam na Sapucaí na hora de planejar as fantasias. Seria a melhor maneira de não descaracterizar completamente uma tradição de tantos anos, carregada de significados sociopolíticos.

“As bonecas contam parte dessa história das baianas, porque trazem um pouco de como eram as fantasias lá atrás quando as escolas de samba começaram. Então, são um símbolo daquela época e do papel das mulheres negras. E podem servir ainda como material educativo. Seja para as crianças, seja para os adultos, são uma forma de estudar e conhecer mais desse passado”.

Quilombo do Samba 

O trabalho da Gabriela também está integrado ao grupo Quilombo do Samba, do qual faz parte, e que ajuda a divulgar as bonecas. Ele foi formado em 2019 com profissionais de diferentes áreas (artes, pedagogia, biologia e publicidade) com o propósito de estudar e divulgar a contribuição da população negra para o samba. O grupo se equilibra entre o meio acadêmico e as atividades do universo do carnaval.

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Guilherme Niegro, de 32 anos, é um dos membros. Pedagogo e especialista em relações étnico-raciais, ele pesquisa a influência bantu, grupo etnolinguístico que vive na África subsaariana, no carnaval brasileiro. Além de pensar em artigos científicos e cursos de extensão, o Quilombo do Samba quer produzir conhecimento sobre o protagonismo negro atual nos desfiles.

“Começamos a organizar conversas pela internet com pessoas do mundo do samba e elas tiveram um grande alcance. Percebemos o potencial disso. Entrevistamos pessoas como porta-bandeiras, intérpretes, presidente da Liga-RJ. Foram 52 entrevistas. Depois, fomos nas quadras, nos barracões da Série Especial e da Série Ouro. Com foco sempre em destacar o papel das pessoas pretas que constroem o carnaval”.

Fonte: EBC GERAL

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Prefeitura de SP constrói muro na Cracolândia para isolar área de usuários de drogas

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A Prefeitura de São Paulo ergueu um muro na Cracolândia, localizada no Centro da cidade, com cerca de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura, delimitando a área onde usuários de drogas se concentram. A estrutura foi construída na Rua General Couto Magalhães, próxima à Estação da Luz, complementada por gradis que cercam o entorno, formando um perímetro delimitado na Rua dos Protestantes, que se estende até a Rua dos Gusmões.

Segundo a administração municipal, o objetivo é garantir mais segurança às equipes de saúde e assistência social, melhorar o trânsito de veículos na região e aprimorar o atendimento aos usuários. Dados da Prefeitura indicam que, entre janeiro e dezembro de 2024, houve uma redução média de 73,14% no número de pessoas na área.

Críticas e denúncias

No entanto, a medida enfrenta críticas. Roberta Costa, representante do coletivo Craco Resiste, classifica a iniciativa como uma tentativa de “esconder” a Cracolândia dos olhos da cidade, comparando o local a um “campo de concentração”. Ela aponta que o muro limita a mobilidade dos usuários e dificulta a atuação de movimentos sociais que tentam oferecer apoio.

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“O muro não só encarcerou os usuários, mas também impediu iniciativas humanitárias. No Natal, por exemplo, fomos barrados ao tentar distribuir alimentos e arte”, afirma Roberta.

A ativista também denuncia a revista compulsória para entrada no espaço e relata o uso de spray de pimenta por agentes de segurança para manter as pessoas dentro do perímetro.

Impacto na cidade

Embora a concentração de pessoas na Cracolândia tenha diminuído, o número total de dependentes químicos não foi reduzido, como destaca Quirino Cordeiro, diretor do Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas. Ele afirma que, em outras regiões, como a Avenida Jornalista Roberto Marinho (Zona Sul) e a Rua Doutor Avelino Chaves (Zona Oeste), surgiram novas aglomerações.

Custos e processo de construção

O muro foi construído pela empresa Kagimasua Construções Ltda., contratada após processo licitatório em fevereiro de 2024. A obra teve custo total de R$ 95 mil, incluindo demolição de estruturas existentes, remoção de entulho e construção da nova estrutura. A Prefeitura argumenta que o contrato seguiu todas as normas legais.

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Notas da Prefeitura

Em nota, a administração municipal justificou a construção do muro como substituição de um antigo tapume, visando à segurança de moradores, trabalhadores e transeuntes. Além disso, ressaltou os esforços para oferecer encaminhamentos e atendimentos sociais na área.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) reforçou que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) atua na área com patrulhamento preventivo e apoio às equipes de saúde e assistência, investigando denúncias de condutas inadequadas.

A questão da Cracolândia permanece um desafio histórico para São Paulo, com soluções que, muitas vezes, dividem opiniões entre autoridades, moradores e ativistas.

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