BRASIL
Especialista critica ausência de negros no júri das escolas de samba
BRASIL
Pesquisadora da história e da cultura afro-brasileira, a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Helena Theodoro criticou a escolha e a falta de representatividade dos jurados indicados pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) para escolher as melhores agremiações do carnaval deste ano. A apuração dos votos foi ontem (22).
“É um absurdo ter 36 jurados e não ter um negro sequer para avaliar uma manifestação que é, basicamente, de base africana. É preciso conhecer essa cultura para saber o que está sendo feito e como aquilo pode ser avaliado dentro de olhares voltados para a tradição que está sendo representada ali”, ressaltou Helena.
Bacharel em direito e pedagoga, mestre em educação, doutora em filosofia e pós-doutora em história comparada, a professora disse que, para julgar escola de samba, é necessário um corpo de jurados que conheça as escolas e também os fundamentos das agremiações. “Porque todas foram criadas por pai de santo e mãe de santo. É outra cultura, e o olhar de um bailarino do Theatro Municipal não vai entender nunca a dança de um mestre-sala e uma porta-bandeira, ou de um passista de escola de samba, que representam elementos da natureza que são ar, água, terra e fogo. É outra cultura, e são outros olhares.”
Para Helena, a tradição cultural negra africana no Brasil é sempre colocada de lado, considerada inferior, quando se tem um processo de mais de 10 mil anos que é de nível intelectual e erudito muito grande. “A gente trabalha com território, com a coletividade, com preocupação com a natureza, com as crianças. E tudo isso está dentro das escolas de samba”, afirmou.
Brasilidade
Para Helena, a A escola de samba traduz a maneira de ser e viver dos africanos que vieram para o Brasil. “Nada disso é conhecido, nem entendido pelos jurados”, diz a professora Helena Theodoro.
Segundo a professora, se o Brasil tivesse uma educação que valorizasse todas as culturas existentes, não seria problema a maioria dos jurados não ser negra, porque estaria dentro da brasilidade. “Mas o que ocorre é que a formação recebida é de uma universidade que vem com influência totalmente europeia e se prende a valores hierárquicos ainda do século 19, que considera as culturas negra e indígena uma coisa menor e que, inclusive, não tem o mínimo respeito pelo tipo de vida, nem de pensamento, nem de ancestralidade, de negros e de índios.”
Helena disse que o papel da escola de samba é contar uma história e lembrou que, além disso, traz problemas sociais, traz história do povo. Para ela, o júri formado pela Liesa não tem condições de entender o que está sendo transmitido ali. “A Liesa deveria ter outros critérios na escolha dos jurados. Temos tanta gente da velha guarda, tanta gente boa do mundo do samba que poderia estar julgando as escolas.”
Na opinião de Helena, escolas tradicionais, como Mangueira, Portela e Império Serrano não deveriam entrar em disputa e deveriam desfilar hors concours, ou seja, fora de julgamento, porque têm uma história representativa. A professora destacou que o carnaval do Rio de Janeiro é referência para o mundo e que as escolas de samba representam nitidamente o Brasil, assim como a feijoada, o samba, as baianas e outras manifestações de origem negra.
Tratado
O radialista, compositor e sambista Rubem Confete, apresentador do programa Histórias do Confete, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, emissora da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), lembrou que a maioria de brancos entre os jurados dos desfiles das escolas de samba é um fenômeno que ocorre há algum tempo. “No tempo do Zacarias Siqueira [vice-presidente da Liesa, morto em 2020)], ele chegou a convidar amigo de praia. Pessoas sem a menor responsabilidade sentam ali naquele camarote e vão julgar o que não conhecem”, disse Rubem Confete à Agência Brasil.
Ele afirmou que o regulamento da Liesa é um verdadeiro tratado, construído em 1988 pelo médico Hiram Araújo. Na época, Confete já dizia: “Vocês estão construindo um tratado de difícil interpretação e convidam pessoas para, de repente, em duas ou três sessões, aprenderem aquilo. Não vai dar certo. Há muitos anos eu venho reclamando a respeito disso. Agora, outras pessoas estão vindo reclamar também.”
Para Confete, é difícil convidar um amigo para ser jurado, mesmo que tenha formação acadêmica, porque pode estar totalmente fora dos parâmetros da arte do samba. O júri deveria ser composto por pessoas que conhecessem as escolas de samba, os quesitos de que estão tratando, disse ele. “Isso aí porque, indiscutivelmente, o desfile é de uma grandiosidade incrível, e os jurados avaliam sem ter a mínima noção do que está acontecendo.”
Liesa
Em nota encaminhada à Agência Brasil, a Liesa disse que se orgulha de “ter no júri oficial profissionais experientes e talentosos de variadas áreas de atuação” e que faz”ampla e rigorosa seleção com base em currículos, conhecimento de carnaval e histórico de carreira, sem que haja qualquer distinção à cor da pele ou identidade de gênero”.
De acordo com a Liesa, dentro dessa gestão, pela primeira vez na história, uma mulher, a percussionista Mila Schiavo, foi escolhida para avaliar o quesito bateria, o que tradicionalmente é feito por homens em uma cultura que agora começa a ser modificada. Dessa maneira, a diretoria da Liesa afirma que “está alinhada e atenta ao compromisso de promover a diversidade e inspirar bons exemplos para outras instituições carnavalescas e para a sociedade em geral”.
Edição: Nádia Franco
Fonte: EBC Geral


BRASIL
Prefeitura de SP constrói muro na Cracolândia para isolar área de usuários de drogas
A Prefeitura de São Paulo ergueu um muro na Cracolândia, localizada no Centro da cidade, com cerca de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura, delimitando a área onde usuários de drogas se concentram. A estrutura foi construída na Rua General Couto Magalhães, próxima à Estação da Luz, complementada por gradis que cercam o entorno, formando um perímetro delimitado na Rua dos Protestantes, que se estende até a Rua dos Gusmões.
Segundo a administração municipal, o objetivo é garantir mais segurança às equipes de saúde e assistência social, melhorar o trânsito de veículos na região e aprimorar o atendimento aos usuários. Dados da Prefeitura indicam que, entre janeiro e dezembro de 2024, houve uma redução média de 73,14% no número de pessoas na área.
Críticas e denúncias
No entanto, a medida enfrenta críticas. Roberta Costa, representante do coletivo Craco Resiste, classifica a iniciativa como uma tentativa de “esconder” a Cracolândia dos olhos da cidade, comparando o local a um “campo de concentração”. Ela aponta que o muro limita a mobilidade dos usuários e dificulta a atuação de movimentos sociais que tentam oferecer apoio.
“O muro não só encarcerou os usuários, mas também impediu iniciativas humanitárias. No Natal, por exemplo, fomos barrados ao tentar distribuir alimentos e arte”, afirma Roberta.
A ativista também denuncia a revista compulsória para entrada no espaço e relata o uso de spray de pimenta por agentes de segurança para manter as pessoas dentro do perímetro.
Impacto na cidade
Embora a concentração de pessoas na Cracolândia tenha diminuído, o número total de dependentes químicos não foi reduzido, como destaca Quirino Cordeiro, diretor do Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas. Ele afirma que, em outras regiões, como a Avenida Jornalista Roberto Marinho (Zona Sul) e a Rua Doutor Avelino Chaves (Zona Oeste), surgiram novas aglomerações.
Custos e processo de construção
O muro foi construído pela empresa Kagimasua Construções Ltda., contratada após processo licitatório em fevereiro de 2024. A obra teve custo total de R$ 95 mil, incluindo demolição de estruturas existentes, remoção de entulho e construção da nova estrutura. A Prefeitura argumenta que o contrato seguiu todas as normas legais.
Notas da Prefeitura
Em nota, a administração municipal justificou a construção do muro como substituição de um antigo tapume, visando à segurança de moradores, trabalhadores e transeuntes. Além disso, ressaltou os esforços para oferecer encaminhamentos e atendimentos sociais na área.
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) reforçou que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) atua na área com patrulhamento preventivo e apoio às equipes de saúde e assistência, investigando denúncias de condutas inadequadas.
A questão da Cracolândia permanece um desafio histórico para São Paulo, com soluções que, muitas vezes, dividem opiniões entre autoridades, moradores e ativistas.
-
MATO GROSSO2 dias atrás
Consumidores preferem importar aeronaves ao invés de comprar no Brasil; entenda o porquê
-
MATO GROSSO1 dia atrás
Edcley Coelho Suplente de Vila Bela da Santíssima Trindade toma posse como deputado estadual na ALMT
-
MATO GROSSO3 horas atrás
AACCMT completa 26 anos com mais de 20 mil atendimentos a crianças e adolescentes com câncer