Search
Close this search box.
CUIABÁ

BRASIL

Lúcio Costa, 120 anos e 11 mil documentos na web

Publicados

BRASIL


Entre um e outro traço, as curvas feitas com o lápis no papel em branco abriam os caminhos para um sonho. As retas, de uma ponta à outra, da cidade imaginada, demarcavam os percursos, as estruturas e os ideais para a nova capital desenhados pelo arquiteto brasileiro Lúcio Costa, que nasceu há exatos 120 anos – em 27 de fevereiro de 1902. Croquis, documentos e fotografias da concepção de Brasília fazem parte de um acervo, tanto particular como profissional, de aproximadamente 11 mil documentos de vários momentos da vida dele que poderão ser acessados pela internet, gratuitamente, a partir de 13 de maio. 

A responsabilidade pela guarda e divulgação desse tesouro histórico é da Casa de Arquitectura de Portugal, situada na cidade de Matosinhos, ao norte do país europeu. Mantida sem fins lucrativos e com parcerias públicas e privadas, a entidade recebeu todo esse volume de materiais da família do arquiteto. A neta de Lúcio Costa, Julieta Sobral, afirmou, em entrevista à Agência Brasil, que o acervo é a totalidade dos documentos que estavam guardados no apartamento do arquiteto quando ele faleceu, em 1998. “Nós catalogamos e organizamos. O apartamento dele era uma loucura. Os materiais estavam soltos. Se não organizássemos, muito poderia ter ido para o lixo”.

Ouça a versão desta matéria para a Radioagência Nacional:

No acervo de aproximadamente 11 mil documentos, há documentos pessoais (como fotografias de família, infância, viagens e até documentos de identificação) peças desenhadas, de cerca de 80 projetos de arquitetura, urbanismo e paisagismo, desenhos ou pinturas não relacionadas com arquitetura (a carvão, aguarelas) obras escritas (como cinco livros, além de ensaios, artigos, depoimentos), correspondência, registos fotográficos e em vídeo. Documentação que traz diferentes fases das concepções de obras como o projeto do prédio do Ministério da Educação e Saúde Pública (Palácio Gustavo Capanema), no Rio de Janeiro, em 1936, o Pavilhão Brasileiro na Feira Internacional de Nova Iorque, 1939, o Park Hotel, de Nova Friburgo, e o Parque Guinle, no Rio de Janeiro, ambos de 1944,  A Casa de Arquitectura adiantou, com exclusividade, para a Agência Brasil, alguns desses documentos que ficarão disponíveis para o público em maio.

Confira o vídeo de divulgação do acervo feito pela Casa de Arquitectura, de Portugal:

Assim, por mais de 20 anos, a família buscou garantir a preservação das obras e da memória do genial arquiteto. Os materiais chegaram a ficar no Instituto Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Mas, diante dos custos e da fragilidade de documentos antigos, decidiram recorrer à entidade em Portugal. “A Casa de Arquitectura tem uma estrutura para escaneamento, por exemplo, e outras técnicas de preservação que não tínhamos aqui. Desde os anos 2000, a gente começou a inventariar esse material e, após catalogar e proteger o acervo por 20 anos, entendemos que era necessária essa migração”, explica a neta do arquiteto.

Acervo Lucio Costa Acervo Lucio Costa

Leia Também:  "Gravíssimo e inaceitável", diz ministro sobre plano para matar Moraes
Nos anos 1980, o arquiteto Lúcio Costa visitou com a neta, Julieta Sobral, a capital que ele planejou. – Acervo Lucio Costa/Casa da Arquitectura/Direitos reservados

A decisão de enviar a produção do arquiteto para fora do país chegou a ser questionada. “Muitas críticas foram feitas à função dessa decisão da família. Ao mesmo tempo, existem várias obras de Lúcio Costa preciosas construídas em solo brasileiro que estão sendo destruídas pelo descaso”.

Guarda com amor

O cuidado da família com os documentos foi o que garantiu a preservação, segundo o diretor da Casa de Arquitectura, Nuno Sampaio. “Nitidamente, foi feito tudo com amor, com cuidado de preservação. Se o acervo chegou até aos nossos dias, deve-se à família do Lúcio Costa. Essa é a realidade. A família recolheu papel a papel e inventariou tudo. São documentos que, por exemplo, estão guardados há 60, 70 anos”. O diretor explica que o material exigiu o trabalho técnico de especialistas em recuperação de diferentes áreas. Os filmes, por exemplo, passaram pelos cuidados de restauração do som. O escaneamento do material foi todo refeito na Casa para a guarda das imagens em alta resolução.

O diretor da Casa explica que a consulta à documentação poderá ser feita em formato digital, nas instalações da Casa, ou através do futuro website (à medida que a documentação é carregada na base de dados). A consulta à documentão física, por causa do estado frágil dos documentos, é permitida em casos de exceção. Sampaio explica que a maioria da documentação se encontra digitalizada com baixa ou média qualidade. Pelo menos 20% dos documentos está em alta qualidade.

“Para essa conservação, tem havido uma grande força-tarefa dos funcionários aqui em Portugal. A recuperação de rasgões em papeis, por exemplo, foi também feita”. Papéis amassados foram recuperados com o auxílio de pesos durante ao menos três meses. O acervo começou a chegar à Casa em 2020, antes da pandemia.

arquiteto Lúcio Costa arquiteto Lúcio Costa

Entre os projetos encontrados no acervo, os traços para o Park Hotel, em Nova Friburgo (RJ) – Acervo Lucio Costa/Casa da Arquitectura/Direitos reservados

O primeiro contato da família com a entidade portuguesa ocorreu em 2018, quando a Casa de Arquitectura realizou uma exposição de trabalhos brasileiros, com o título de Infinito Vão. O cuidado com os materiais chamou a atenção da família de Lúcio Costa, que confiou na entidade para a guarda desse espólio. “É importante que o mundo reconheça a qualidade da arquitetura brasileira, mas essencialmente é importante que a sociedade brasileira reconheça a qualidade dos seus arquitetos”, avalia o diretor português. A admiração pela criação de brasileiros evocou outros eventos na entidade de Portugal, tanto na modalidade presencial quanto na virtual – como uma mostra, prevista para 2023, sobre a obra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que morreu no ano passado, aos 92 anos de idade.
 

Leia Também:  Prefeitura do Rio apresenta plano de prevenção à violência nas escolas

Visão humanitária de Lúcio Costa

Pesquisadores da obra e do legado de Lúcio Costa entendem que o arquiteto modernista deve ser reconhecido como um autor visionário, generoso e visão humanitária.  Ele defendia que a organização do espaço deveria privilegiar a convivência entre pessoas de diferentes origens e classes sociais.

“Lúcio Costa é um dos faróis do saber brasileiro. Ele não foi um arquiteto empreendedor, um ganhador de dinheiro. Ele era um intelectual que amava arquitetura, desenhava e escrevia impressionantemente bem”, afirma o professor de arquitetura e urbanismo Frederico Flósculo. O pesquisador contextualiza que o brasileiro teve decisiva influência de europeus, como do arquiteto francês Le Corbusier.

A discrição e a qualidade do trabalho assinado por Lúcio Costa ganhou, na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, a admiração de um dos alunos: Oscar Niemeyer, que encorajou Costa, que já contava com carreira reconhecida, a participar de um concurso diferente – o de projetos para a concepção de uma nova cidade. Lúcio Costa entregou a proposta em cima da hora, no último dia de inscrições.  Ao todo, foram 26 os projetos apresentados (leia mais).

arquiteto Lúcio Costa arquiteto Lúcio Costa

A cidade sonhada por Lúcio Costa dividida em duas “asas” (Sul e Norte) – Acervo Lucio Costa/Casa da Arquitectura/Direitos reservados

A simplicidade do traço de uma cidade no formato de uma libélula (de um avião ou de uma cruz), com a previsão do cruzamento de dois eixos (rodoviário e monumental), dividindo o que chamou de Plano Piloto, em Asa Sul e Asa Norte, convenceu os julgadores. “Era uma proposta muito e que foi aceita também por causa da defesa que ele fez na redação. Era uma utopia de cidade”, pontua Flósculo.

Para a pesquisadora brasiliense Ludmila Correia, Lúcio Costa colocou em prática princípios e pensamentos que estavam em grande parte somente na teoria. “Esses pensamentos eram todos modernos, que estavam sendo discutidos e, ao mesmo tempo, traziam desafios únicos. Lúcio Costa foi uma pessoa bastante visionária”. Ele acreditava que, a partir da arquitetura e do urbanismo, seria possível transformar a sociedade: “Mas, depois, ele percebeu é que a organização da cidade na prática acabou incorporando os problemas da sociedade. Brasília é a experiência mais icônica”, diz a professora.

Edição: Nathália Mendes

Fonte: EBC Geral

COMENTE ABAIXO:
Propaganda

BRASIL

Prefeitura de SP constrói muro na Cracolândia para isolar área de usuários de drogas

Publicados

em

A Prefeitura de São Paulo ergueu um muro na Cracolândia, localizada no Centro da cidade, com cerca de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura, delimitando a área onde usuários de drogas se concentram. A estrutura foi construída na Rua General Couto Magalhães, próxima à Estação da Luz, complementada por gradis que cercam o entorno, formando um perímetro delimitado na Rua dos Protestantes, que se estende até a Rua dos Gusmões.

Segundo a administração municipal, o objetivo é garantir mais segurança às equipes de saúde e assistência social, melhorar o trânsito de veículos na região e aprimorar o atendimento aos usuários. Dados da Prefeitura indicam que, entre janeiro e dezembro de 2024, houve uma redução média de 73,14% no número de pessoas na área.

Críticas e denúncias

No entanto, a medida enfrenta críticas. Roberta Costa, representante do coletivo Craco Resiste, classifica a iniciativa como uma tentativa de “esconder” a Cracolândia dos olhos da cidade, comparando o local a um “campo de concentração”. Ela aponta que o muro limita a mobilidade dos usuários e dificulta a atuação de movimentos sociais que tentam oferecer apoio.

Leia Também:  Publicada lei que institui o Programa de Aquisição de Alimentos

“O muro não só encarcerou os usuários, mas também impediu iniciativas humanitárias. No Natal, por exemplo, fomos barrados ao tentar distribuir alimentos e arte”, afirma Roberta.

A ativista também denuncia a revista compulsória para entrada no espaço e relata o uso de spray de pimenta por agentes de segurança para manter as pessoas dentro do perímetro.

Impacto na cidade

Embora a concentração de pessoas na Cracolândia tenha diminuído, o número total de dependentes químicos não foi reduzido, como destaca Quirino Cordeiro, diretor do Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas. Ele afirma que, em outras regiões, como a Avenida Jornalista Roberto Marinho (Zona Sul) e a Rua Doutor Avelino Chaves (Zona Oeste), surgiram novas aglomerações.

Custos e processo de construção

O muro foi construído pela empresa Kagimasua Construções Ltda., contratada após processo licitatório em fevereiro de 2024. A obra teve custo total de R$ 95 mil, incluindo demolição de estruturas existentes, remoção de entulho e construção da nova estrutura. A Prefeitura argumenta que o contrato seguiu todas as normas legais.

Leia Também:  Espécies invasoras causam prejuízo anual de mais de US$ 2 bi no país

Notas da Prefeitura

Em nota, a administração municipal justificou a construção do muro como substituição de um antigo tapume, visando à segurança de moradores, trabalhadores e transeuntes. Além disso, ressaltou os esforços para oferecer encaminhamentos e atendimentos sociais na área.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) reforçou que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) atua na área com patrulhamento preventivo e apoio às equipes de saúde e assistência, investigando denúncias de condutas inadequadas.

A questão da Cracolândia permanece um desafio histórico para São Paulo, com soluções que, muitas vezes, dividem opiniões entre autoridades, moradores e ativistas.

COMENTE ABAIXO:
Continue lendo

CUIABÁ

VÁRZEA GRANDE

MATO GROSSO

POLÍCIA

MAIS LIDAS DA SEMANA