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Restaurante de imigrantes peruanos em SP sofre ataques xenofóbicos

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Alvo de ataques xenofóbicos, o restaurante peruano Doña Bertha, em São Paulo, tem passado dias difíceis por causa do posicionamento político exposto na placa que fica na entrada do local. Em uma delas, os donos do restaurante escrevem, entre informações sobre o atendimento, mensagens de apoio ao presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e de repúdio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. 

O restaurante também escreveu mensagem em que lamentou as manifestações ocorridas no Peru e se solidarizou com o povo peruano. Diante dessas mensagens, sofreu diversos ataques xenofóbicos, com comentários de ódio e ameaças, nas redes sociais e em avaliações do Google. As mensagens atacam o posicionamento político dos proprietários e difamam a imagem do restaurante, são vários comentários negativos sobre o serviço oferecido, mas que, segundo lamenta o gerente, Martín Suárez, visam somente atacar o restaurante.  

“O pesadelo foi na sexta-feira (20) por volta das 13h: foi uma um ataque em massa de todos os lados, veio no Instagram, no Facebook, no Twitter mensagem pela página do próprio Google com a a avaliação de uma estrela [a pior avaliação] e com xingamentos. Ainda tiveram as ligações no telefone fixo e no celular do restaurante. Foi bem assustador!”, relatou o peruano Martín Suárez, que gerencia, junto com a mãe, a cozinheira Doña Bertha, o restaurante que está há 11 anos no Brasil.  

O gerente relata que as ameaças são extensivas a outros estabelecimentos da região. “Entre as ameaças falaram que o nosso negócio vai falir, mandaram até a captação da imagem de uma página do Google Maps sobre alguns bares de esquerda na Santa Cecília e Campos Elíseos que estão na lista deles e ameaçando de que vamos todos falir, vamos fechar”. 

Ameaça

Ano passado, Suarez conta sobre um ataque que já dava o tom do que estava por vir. “No dia 31 de dezembro do ano passado uma senhora parou na nossa porta e fez xingamentos. Ela ainda mandou a gente de volta para o nosso país e tentou apagar a nossa placa. Depois ela ligou no meu celular falando as mesmas coisas e que a gente ia se arrepender”. 

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Para se proteger, ele diz que não têm atendido a ligações e que o atendimento, que já era feito somente aos finais de semana e com as portas fechadas, está mantido, por segurança da casa.  “Espero que isso pare e que não aconteça com estabelecimentos de imigrantes, nenhum tipo de estabelecimento merece esse tratamento, independente de onde eles sejam. Estamos vendo a parte legal, de encontrar nomes e pessoas para poder entrar em uma ação civil. Temos clientes, que são advogados, nos ajudando”. 

Crime

Na visão da advogada Mariana Chiesa, do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados, é lamentável que as pessoas sejam atacadas em razão de suas opiniões políticas ou origem nacional e lembra que os discursos de ódio, discriminação e violência contra os imigrantes é crime. 

“O tipo penal de racismo protege todos contra crimes resultantes de discriminação, inclusive por procedência nacional. Sendo assim, qualquer prática discriminatória, incluindo a recente mudança legislativa de injuriar alguém, ofendendo a sua dignidade ou o decoro, em razão de procedência nacional, pode ser classificada como o crime inafiançável e imprescritível de racismo”.

A advogada destaca que a xenofobia vem crescendo no país. “O Disque 100 (Disque Direitos Humanos) já em 2015 sinalizava para um aumento de 663% com relação ao ano anterior de denúncias envolvendo violação dos direitos de migrantes (xenofobia).

Em uma década, o volume de trabalhadores estrangeiros no Brasil saltou de 62.423, em 2011, para 181.385, em 2020, conforme relatório do Observatório das Migrações Nacionais (OBMigra – órgão vinculado ao Ministério da Justiça)”.   

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O dado contempla diferentes tipos de imigração, incluindo refugiados ou imigrantes que ingressam com concessão de visto. No entanto, é possível que o número de pessoas não documentadas e que não foram registradas seja ainda maior.

“Podemos aferir que a chegada de imigrantes ocupando o mercado formal e informal de trabalho numa situação de crise econômica aumenta as tensões sociais, que podem se manifestar em forma de xenofobia, conforme os indicadores já registravam oito anos atrás”.

Na opinião da advogada, um fator que pode colaborar para o aumento da xenofobia é o crescimento de manifestações de caráter ultranacionalistas e extremas, “como a que assistimos recentemente nos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro. O patriotismo exacerbado, que pode levar a xenofobia, é resposta frequente à desigualdade social, principalmente se levarmos em consideração a situação de vulnerabilidade que muitos imigrantes chegam no Brasil: de forma não documentada, sem nem mesmo conhecer a língua portuguesa, e em situação financeira precária”.

Para a advogada, soma-se ao cenário o abandono do Pacto Global para Migração. “Soma-se a falta de compromisso do Governo Federal nos últimos anos, o qual tomou a decisão de formalmente abandonar o Pacto Global para a Migração. A ausência de políticas públicas consistentes para assegurar dignidade aos imigrantes também contribui para torná-los mais vulneráveis à violência e ao discurso de ódio”.

Proteção 

A advogada destaca que o imigrante pode contar com os órgãos de apoio ao imigrante, como o Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes, vinculado à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. “Ele oferece apoio especializado e multilíngue aos imigrantes, independentemente de sua situação migratória (documentada ou não documentada)”. 

A cidade de São Paulo também tem delegacia especializada, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI), localizada na Rua Brigadeiro Tobias, 527, 3º andar, Luz, que pode auxiliar o imigrante  ao receber denúncias de crimes.

Edição: Aline Leal

Fonte: EBC Geral

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Prefeitura de SP constrói muro na Cracolândia para isolar área de usuários de drogas

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A Prefeitura de São Paulo ergueu um muro na Cracolândia, localizada no Centro da cidade, com cerca de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura, delimitando a área onde usuários de drogas se concentram. A estrutura foi construída na Rua General Couto Magalhães, próxima à Estação da Luz, complementada por gradis que cercam o entorno, formando um perímetro delimitado na Rua dos Protestantes, que se estende até a Rua dos Gusmões.

Segundo a administração municipal, o objetivo é garantir mais segurança às equipes de saúde e assistência social, melhorar o trânsito de veículos na região e aprimorar o atendimento aos usuários. Dados da Prefeitura indicam que, entre janeiro e dezembro de 2024, houve uma redução média de 73,14% no número de pessoas na área.

Críticas e denúncias

No entanto, a medida enfrenta críticas. Roberta Costa, representante do coletivo Craco Resiste, classifica a iniciativa como uma tentativa de “esconder” a Cracolândia dos olhos da cidade, comparando o local a um “campo de concentração”. Ela aponta que o muro limita a mobilidade dos usuários e dificulta a atuação de movimentos sociais que tentam oferecer apoio.

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“O muro não só encarcerou os usuários, mas também impediu iniciativas humanitárias. No Natal, por exemplo, fomos barrados ao tentar distribuir alimentos e arte”, afirma Roberta.

A ativista também denuncia a revista compulsória para entrada no espaço e relata o uso de spray de pimenta por agentes de segurança para manter as pessoas dentro do perímetro.

Impacto na cidade

Embora a concentração de pessoas na Cracolândia tenha diminuído, o número total de dependentes químicos não foi reduzido, como destaca Quirino Cordeiro, diretor do Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas. Ele afirma que, em outras regiões, como a Avenida Jornalista Roberto Marinho (Zona Sul) e a Rua Doutor Avelino Chaves (Zona Oeste), surgiram novas aglomerações.

Custos e processo de construção

O muro foi construído pela empresa Kagimasua Construções Ltda., contratada após processo licitatório em fevereiro de 2024. A obra teve custo total de R$ 95 mil, incluindo demolição de estruturas existentes, remoção de entulho e construção da nova estrutura. A Prefeitura argumenta que o contrato seguiu todas as normas legais.

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Notas da Prefeitura

Em nota, a administração municipal justificou a construção do muro como substituição de um antigo tapume, visando à segurança de moradores, trabalhadores e transeuntes. Além disso, ressaltou os esforços para oferecer encaminhamentos e atendimentos sociais na área.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) reforçou que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) atua na área com patrulhamento preventivo e apoio às equipes de saúde e assistência, investigando denúncias de condutas inadequadas.

A questão da Cracolândia permanece um desafio histórico para São Paulo, com soluções que, muitas vezes, dividem opiniões entre autoridades, moradores e ativistas.

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