MATO GROSSO
Líderes comunitários se reúnem com a Defensoria para questionar seleção de diretores de escolas quilombolas em MT
MATO GROSSO
Representantes dos quilombolas afirmam que novos gestores das escolas não pertencem às comunidades tradicionais e solicitam participação em processo de escolha
Na tarde desta quinta-feira (11), 40 representantes de comunidades tradicionais se reuniram com os defensores Fábio Barbosa e Djalma Sabo Mendes, e o ouvidor Getúlio Pedroso, para questionar os critérios de seleção de diretores de escolas quilombolas em Mato Grosso. A reunião ocorreu às 15h na sala de reuniões (82) da Escola Superior da DPMT, no edifício Pantanal Business (av. do CPA), em Cuiabá.
Segundo os líderes dos povos tradicionais, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) realizou um processo seletivo para a escolha de novos gestores das escolas quilombolas sem consultar as comunidades e sem exigir a declaração de pertencimento – emitida por autoridades quilombolas – para participar da seleção.
“Vocês deram esse primeiro passo. Terminando a reunião, já vamos fazer alguns encaminhamentos. Temos a máxima urgência. Devemos abrir um procedimento preparatório e vamos buscar, num primeiro momento, reuniões com a Seduc”, afirmou Mendes.
O defensor, membro do Grupo de Atuação Estratégica em Defesa de Direitos Coletivos da Educação Pública (Gaedic Educação), destacou a importância da Ouvidoria para fazer a ponte entre as comunidades tradicionais e a Defensoria Pública.
“A Ouvidoria-Geral vem se consolidando durante os últimos anos como uma grande ponte (acesso à justiça) entre a sociedade civil mato-grossense e os defensores e defensoras públicas de nosso estado”, destacou o ouvidor.
Segundo os representantes das comunidades tradicionais, atualmente há seis escolas quilombolas em Mato Grosso. Já a Seduc informou que existem cinco escolas quilombolas estaduais, que contam com 150 professores e 1.925 alunos matriculados.
“Estamos procurando o direito de que os profissionais da educação quilombola tenham prioridade para ocupar os cargos nas escolas quilombolas. Temos três escolas, Santo Antônio do Leverger, Vila Bela da Santíssima Trindade e Barra do Bugres, em que a Seduc enviou gestores que não são quilombolas”, relatou Gonçalina Eva Almeida de Santana, 46 anos.
Gonçalina é professora, lotada na Escola Estadual Quilombola Tereza Conceição Arruda, em Nossa Senhora do Livramento (40 km de Cuiabá), e faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Escolar Quilombola (GEPEQ).
“O único direito que temos, que é a escola, querem tirar de nós. Nosso direito vai ser cumprido, nem que a gente tenha que fazer acampamento na Seduc ou na escola”, salientou Natalia Augusta da Cruz, presidente da Associação dos Moradores Quilombolas de Mato Grosso.
De acordo com o grupo, existem 84 comunidades quilombolas no estado, sendo que 72 possuem certidão de reconhecimento da Fundação Cultural Palmares.
“Em nossa comunidade, buscamos a história de todo mundo, tudo registrado, daqueles que são realmente remanescentes das comunidades quilombolas”, declarou o professor Urias Bom Despacho e Silva, 62 anos, lotado na Escola Estadual Quilombola Maria de Arruda Muller, localizada na Comunidade Quilombola Abolição, em Santo Antônio de Leverger.
Dados do Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE), apontam que 11.719 pessoas quilombolas moram em Mato Grosso, o que representa 0,32% da população.
Conforme o levantamento, Poconé (103 km de Cuiabá) é o município com mais quilombolas (3.445). Mato Grosso é o 18º estado do Brasil com mais moradores nesse grupo.


MATO GROSSO
Decisão do STJ obriga juízes do TJMT analisar essencialidade de grãos em RJ de produtores rurais

O ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), deu provimento ao recurso especial interposto por produtores rurais, e reformou acórdão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), obrigando os juízes a realizar novo julgamento sobre extraconcursalidade dos créditos e da essencialidade dos grãos no processo de recuperacional.
Os produtores entraram com recurso após o Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Rondonópolis deferir a recuperação judicial dos recorrentes, mas considerar que o crédito executado era de natureza extraconcursal, pois decorria de contrato de Barter com emissão de Cédula de Produto Rural (CPR), não se submetendo aos efeitos da recuperação. Porém, no julgamento, o Tribunal afastou a essencialidade dos grãos sem justificar as razões de tal medida.
Em sua decisão, o ministro destacou que o acórdão do TJMT se limitou a afirmar a extraconcursalidade do crédito com base na natureza da CPR, proveniente de contrato de Barter, porém, sem discorrer sobre a exceção prevista no artigo 11 da Lei 8.929/1994.
“Assim, não há elementos no acórdão que possam subsidiar, de forma concreta, a extraconcursalidade atribuída à CPR, muito menos a não essencialidade dos grãos para garantir o cumprimento do plano de recuperação”, diz trecho da decisão.
Operação Barter é uma operação financeira entre produtor rural e empresas de produtos utilizados no agronegócio, uma modalidade de crédito em que o pagamento ocorre de uma forma diferente do crédito convencional. Por meio de um acordo realizado antes da colheita, o produtor adquire insumos agrícolas e realiza o pagamento com os produtos que ele cultiva em sua lavoura. Isso quer dizer que não é preciso fazer o pagamento antecipado em dinheiro.
De acordo com o advogado do Grupo ERS e especialista em recuperação judicial, Allison Giuliano Franco e Sousa, a decisão traz mais segurança jurídica aos produtores rurais.
“Em um período em que os pedidos de recuperação judicial no campo crescem a cada novo levantamento divulgado, temos uma sinalização de um ministro do STJ que diz que o argumento dos produtores rurais para ficarem com os grãos, pois são bens essenciais para a manutenção da atividade é o suficiente. Com a decisão, o STJ obriga os juízes a se manifestarem sobre a essencialidade dos contratos de Barter, não podendo serem retirados imediatamente da recuperação judicial, isso traz mais segurança jurídica aos produtores”, explicou.
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