MATO GROSSO
Projeto da Empaer com uso de sistema agroflorestal muda realidade de pequenos agricultores de Aripuanã
MATO GROSSO
O uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em propriedades de agricultura familiar e terras indígenas da Região Nororeste de Mato Grosso tem garantido uma produção que respeita o meio ambiente, recupera áreas degradas e, ao mesmo tempo, auxilia na diversificação de renda dos pequenos produtores.
O diagnóstico foi constatado por técnicos e autoridades da Empaer (Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural), durante visita técnica realizada entre os dias 22 e 26 de novembro, em propriedades que há um ano vêm recebendo assistência de forma continuada.
Em Aripuanã (a 1.002 km de Cuiabá), seis famílias participam do projeto “Sistemas Agroflorestais manejados participativamente com tecnologias agroecológicas”, realizado pela Empaer, em parceria com a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), a Prefeitura de Aripuanã, e apoiado pelo Programa REM.
O tanque de geomembrana pode ser instalado em um dia e tem um bom custo beneficio Foto: Empaer
Por meio do projeto, os produtores foram contemplados com galinheiros agroecológicos, tanques de geomembrana para armazenar água para irrigação, sistema de fertirrigação, além da área plantada com mudas de bananas Farta velhaco, BRS princesa, e mamão, que já estão produzindo e sendo comercializadas na região. Foram plantadas, ainda, mudas de cacau entre as culturas que estão em desenvolvimento.
O coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural da Empaer, e responsável pelo projeto, engenheiro agrônomo Fabrício Tomaz Ramos, explica que os sistemas agroflorestais aliam o cultivo agrícola, espécies florestais e criação de animais, juntos numa mesma área. “Isso tudo de forma que uma atividade traz benefício para outra. O objetivo é mostrar que os SAFs geram renda, beneficiam o meio ambiente e incluem os jovens rurais e, isso, pode ser referência no Estado”, observa.
O engenheiro ainda destaca a importância do envolvimento das famílias, da equipe técnica da Empaer e dos gestores na validação do que foi planejado até o momento e o que precisa ser readequado. “É a oportunidade de ver o antes e o depois nas propriedades, identificar se os produtores seguiram as orientações, como as culturas se desenvolveram ao longo de quase um ano, além de saber se os investimentos aplicados estão fazendo a diferença na vida dessas famílias”.
Segundo o coordenador, o projeto é uma jornada, ou seja, foi uma “semente que germinou” e agora está em pleno desenvolvimento. “São etapas que vão avançando e o resultado esperado é ser referência para agricultores e agricultoras de Aripuanã e municípios no entorno”, frisa Fabrício.
Miguel, filho do casal Aline e Marcos, no galinheiro agroecológico da propriedade Foto: Empaer
Participantes
O foco é colocar o conhecimento em prática, de modo que as famílias que foram selecionadas possam viver da terra. Ainda, o objetivo é aumentar a produtividade por hectare com redução dos custos de produção, e aumentar o estoque de carbono no solo e nas plantas, bem como reduzir o uso da enxada com tecnologia, de modo a evitar o trabalho penoso no sol quente, e convencer a juventude rural (agricultores do futuro) que é possível gerar uma renda superior no campo do que na cidade.
O projeto visa transformar essas propriedades em “Unidades Demonstrativas e Multiplicadoras” de tecnologias agroecológicas e modelo de assistência técnica e extensão rural.
É exemplo o casal Marcos dos Santos Tizziani e Aline Gomes Leite Tizziani, ambos com 25 anos. Eles já estão produzindo e comercializando bananas e mamão para escolas e creches da cidade.
Segundo Marcos, a renda da família que antes do projeto era de no máximo R$ 2 mil reais ao mês, considerando toda a propriedade e os serviços de diarista, saltou para R$ 10 mil reais em uma área de 1 hectare. “É preciso muito trabalho e dedicação. Comprei o sítio Estrela Celeste dos meus pais. Já tinha desistido da vida do campo, mas como sempre gostei, decidi apostar e, quando fui convidado para participar do projeto, aceitei de pronto e estou muito satisfeito. O projeto mudou a minha vida e hoje não preciso trabalhar fora da propriedade e tenho mais tempo para minha família”, afirma.
Aline lembra que, junto do marido, tiveram momentos de aperto, e, com a chegada do filho Miguel, hoje com quatro anos, era preciso buscar uma forma para melhorar as condições financeiras. “O nosso segredo é o amor que temos na nossa família e a persistência. Ter uma propriedade requer cuidado, dedicação e muito trabalho. Acordar antes das 4h da manhã é preciso e faz parte do nosso dia a dia. Hoje, nossa propriedade dá lucro, compramos um carro e começamos a reformar nossa casa. Agora vamos continuar trabalhando para aumentar a produção e contamos com a ajuda da Empaer”.
O cacique Raimundo Vela Arara, 53 anos, da Aldeia Porto, popular Mazinho, também conta que o projeto mudou sua vida por completo. “Antes conhecia a Empaer só pelo nome. Quando fui procurado se tinha interesse em participar, acreditei e abri a aldeia para os meninos da empresa, que não mediram esforços em ajudar. Graças a eles hoje posso ter certeza que a renda da minha família irá melhorar e muito”.
Viveiro de mudas de café clonal do agricultor Julielton Ribeiro de Souza Foto: Empaer
Para Julielton Ribeiro de Souza, 30 anos, a iniciativa também serviu para mudar suas expectativas junto à lida no campo. O projeto oportunizou, também, um viveiro de mudas de café no Sítio São Jorge, localizado no distrito de Conselvan. “Meu objetivo é investir na agroecologia e mostrar para alunos e moradores da região as práticas de sistemas agrícolas que incorporam as questões sociais, políticas, culturais, ambientais e éticas”.
O casal, Aparecido Joaquim da Cruz e Zilda Ribeiro dos Santos, proprietários do Sítio Raio de Luz, ponderou que voltou a sonhar com o resultado da produção de banana, mamão e cacau. “Vivemos no sítio desde 2010 e sempre tivemos que completar a renda com a confecção de cestas, pois a aposentadoria não é suficiente. Eu e meu velho gostamos de trabalhar na roça, cuidar de galinhas e comer o que produzimos. O projeto trouxe tudo isso. Com a venda das primeiras bananas já investimos em melhorias e vamos continuar trabalhando para melhorar ainda mais”, destaca dona Zilda.
Na comunidade do Lontra, a família do jovem de 22 anos, Leonardo Samuel de Oliveira Campos, também está contente com os primeiros resultados da venda da banana e do mamão vendidos para escolas e creches da região. Seus avós que também fazem parte do projeto, Genivaldo Dias Campos, 64 anos, e Ivanete Rodrigues de Oliveira Campos, 61 anos, destacam a mudança que o projeto proporcionou na qualidade de vida da família.
“Sempre vivemos da terra, mas com muita dificuldade. Hoje, ver o nosso trabalho duro proporcionar uma renda justa é muito bom e vem para mostrar que conseguimos sim viver do que produzimos”, reforça dona Ivanete.
Para Edjalma Gomes do Nascimento, 59 anos, e sua esposa, Ivani Marques do Nascimento, 55 anos, proprietários do Sítio Nova Esperança, o projeto trouxe novas expectativas para o casal. “Fomos os primeiros moradores da região, em que na época só tinha mato, e mesmo assim sempre acreditamos que viver da terra é possível. Criamos quatro filhos e vamos ser referência e modelo para ajudar outros produtores da cidade”, destaca Edjalma.
Equipe durante a visita na Aldeia Porto Foto: Empaer
Visita nas propriedades
Para o presidente da Empaer, Renaldo Loffi, o projeto evidencia a assistência técnica, o uso de tecnologia e recursos ideais na hora certa, sendo possível garantir uma produção que traga renda e qualidade de vida para o produtor. “O projeto vem ao encontro com as necessidades da região, que está em pleno desenvolvimento e precisando de produtos da agricultura familiar. Os parceiros são fundamentais nesse processo. Ter na comitiva, a gestora municipal e um secretário de estado, mostra o quanto a iniciativa é importante e trará resultados para os moradores da região”.
O secretário adjunto da Seaf, Clovis Cardoso, considerou a Empaer como o braço operacional da pasta junto aos agricultores familiares no Estado. “Sem assistência técnica não há agricultura familiar. Uma das culturas que está sendo fomentada no projeto é a produção de cacau que vem ao encontro do Mato Grosso Produtivo Cacau. Sou um entusiasta e confirmo que nesta região da floresta amazônica, o cacau é ideal devido ao clima”.
Prefeita Seluir Peixer Reghin com o presidente da Empaer durante a visita em uma das propriedades Foto: Empaer
A prefeita Seluir Peixer Reghin agradeceu o convite para participar da comitiva. “Aripuanã tem um grande potencial agrícola e ouvir dos produtores que querem produzir mais e que precisa de assistência técnica é importante para planejarmos em conjunto o futuro. Por isso, vamos continuar sendo parceiros em iniciativas como as deste projeto”.
Oficina
Encerrando os trabalhos da comitiva, no sábado (26.11), as famílias participaram de uma oficina, que consolidou o diagnóstico de cada propriedade. Na ocasião, foram identificados os pontos fortes, os problemas, as demandas a serem trabalhados em 2023 em cada propriedade. A oficina contou com a participação do secretário de Agricultura de Aripuanã, Heije Kawatake.
Fizeram parte dos trabalhos, o coordenador da Regional de Juína, José Aparecido dos Santos e os técnicos: Glieber Henrique Beliene, Leonardo Diogo Ehle Dias, Wallison Mendonça de Souza, Tiago Lagares Cassiano dos Santos, Igor Murilo Bumbieris Nogueira, Ronaldo Benevides de Oliveira Filho, Leandro Dalla Libera e Felipe Citadella Marques.
Mapeamento participativo para identificar outras demandas nas propriedades Foto: Empaer
O Programa REM MT (REDD Ealy Movers Mato Grosso) é uma premiação dos governos da Alemanha e do Reino Unido, por meio do Banco Alemão de Desenvolvimento (KFW), ao estado do Mato Grosso pelos resultados na redução do desmatamento nos últimos anos (2006-2015).
Coordenado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, o programa beneficia aqueles que contribuem com ações de conservação da floresta, como os agricultores familiares, as comunidades tradicionais e os povos indígenas, e fomenta iniciativas que estimulam a agricultura de baixo carbono e a redução do desmatamento, a fim de reduzir emissões de CO2 no planeta. O programa tem como gestor financeiro o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Fonte: GOV MT


MATO GROSSO
Débora Guerra defende saúde como eixo da sustentabilidade na Amazônia: “A formação médica precisa estar enraizada no território”

Com a proximidade da COP 30, a Amazônia se torna, mais do que nunca, protagonista nos debates globais sobre clima, sustentabilidade e justiça social. Para Débora Guerra, CEO da Trivento Educação, instituição presente há mais de oito anos em Altamira (PA), esse cenário exige um novo olhar sobre a formação médica. “A saúde precisa ser compreendida como parte do ecossistema amazônico, e não apenas como um serviço”, afirma.
Débora destaca que a Trivento atua com um currículo médico voltado para as especificidades da região. “Trabalhamos com temas como doenças tropicais, saúde indígena, medicina de emergência e telemedicina. A ideia é que o estudante compreenda a realidade da Amazônia e atue dentro dela, criando vínculos com a população e enfrentando os desafios locais com conhecimento e sensibilidade cultural”, ressalta.
Para além da formação acadêmica, a proposta da Trivento busca consolidar programas de residência e estágios na própria região, incentivando os futuros médicos a permanecerem no território após a graduação. “A carência de profissionais especializados é um problema histórico em cidades como Altamira e em todo o Xingu. Formar médicos que compreendam as condições de vida locais é estratégico para transformar esse cenário”, enfatiza Guerra.
Débora também defende o incentivo à interdisciplinaridade e ao trabalho em rede, fundamentais para o atendimento em áreas de difícil acesso. “O médico amazônico muitas vezes atua em contextos extremos, com poucos recursos e em articulação com equipes multiprofissionais. Por isso, nossa formação é integral, adaptada às realidades e aliada a políticas de valorização profissional”, explica.
Em diálogo com a COP 30, Débora propõe uma agenda que reconheça a saúde como parte essencial das dinâmicas socioambientais. “A saúde é determinante e consequência do meio ambiente. A degradação ambiental impacta diretamente a vida de indígenas, ribeirinhos e populações vulneráveis”, diz. A proposta da Trivento inclui investir em pesquisas interdisciplinares, com base científica robusta, e defender políticas públicas que integrem saúde, meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
Entre as propostas, estão a ampliação do uso de energias renováveis, a telemedicina como ponte entre Altamira e grandes centros médicos, e modelos de atenção primária que respeitem o contexto cultural e territorial. “Não é apenas sobre levar atendimento, mas sobre como esse atendimento se dá, com respeito ao modo de vida local e menor impacto ambiental”, ressalta.
Débora reforça que a Amazônia precisa ser ouvida nos fóruns multilaterais. “A perspectiva amazônica tem que ser reconhecida como central no debate global sobre saúde e clima. E isso só é possível com protagonismo das comunidades locais, que carregam saberes fundamentais para a construção de soluções sustentáveis”, pontua.
A formação médica contextualizada é um passo decisivo rumo a um futuro em que saúde, ambiente e justiça social caminhem juntos. “A Amazônia não é um obstáculo, é uma potência. E formar médicos que enxerguem isso é transformar o cuidado em instrumento de desenvolvimento”, finaliza.
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