POLITÍCA NACIONAL
Novo ensino médio divide opiniões de deputados e educadores em seminário na Câmara
POLITÍCA NACIONAL
A implementação do novo ensino médio dividiu opiniões tanto de especialistas como de deputados em seminário promovido pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (17). Previsto na Lei 13.415/17, o novo ensino médio prevê a flexibilização da grade curricular por meio da oferta de itinerários formativos, inclusive o ensino profissional, e a ampliação da educação integral, com expansão da carga horária. No início do mês passado, o governo editou portaria suspendendo por 60 dias a implementação do cronograma da reforma.
Professor da Universidade Federal do ABC, Fernando Cássio é crítico ao novo ensino médio. Segundo ele, na prática, analisando as mudanças já implementadas na rede estadual de São Paulo no primeiro semestre de 2022, verifica-se que estão sendo ofertados poucos itinerários formativos, sendo essa oferta ainda menor para grupos mais vulnerabilizados, como populações carcerárias, estudantes que cumprem medidas socioeducativas, populações indígenas e assentados rurais.
Conforme o professor, existe uma relação clara entre a oferta de itinerários formativos e o nível socioeconômico da escola, sendo que os estudantes pobres têm menos possibilidades de escolha. Na prática, a desigualdade entre os alunos, mesmo no âmbito apenas das escolas públicas, estaria sendo ampliada, e não reduzida, como prometido.
Ele apontou ainda a falta de professores para ofertar os itinerários formativos, o que leva ao descumprimento da carga horária prevista. “O problema é que as redes estaduais não estão ofertando 3 mil horas letivas totais no ensino médio. Então, nós estamos com um problema de oferta irregular. A Lei 13.415 não está sendo cumprida naquilo que ela tem de mais essencial, que é a expansão do número de horas letivas anuais”, avaliou.

Revogação da reforma
Professor da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara afirmou que a comunidade educacional das escolas públicas, onde estão 88% dos alunos do ensino médio, praticamente de forma unânime rejeita a reforma. Para ele, não é possível implementar a reforma na realidade brasileira, lembrando que 55% dos municípios brasileiros só têm uma escola. Ele citou dados, por exemplo, do Piauí, mostrando que 124 municípios tinham apenas uma escola de ensino médio em 2021, ofertando apenas um ou dois itinerários, e jovens que queriam fazer itinerários ligados às ciências da natureza, como medicina, não tinham essa possibilidade.
“A reforma do ensino médio parte de uma injustiça estrutural, porque sequer foi perguntando se era possível implementá-la, e você não pode constituir uma política sem reconhecer uma realidade”, opinou. Ele apontou que não existem nem salas de aula disponíveis para implementar os itinerários e defendeu o Projeto de Lei 2601/23, apresentado pelo deputado Bacelar (PV-BA) e 11 parlamentares, com apoio de especialistas em educação, que revoga o novo ensino médio e propõe o fim dos itinerários formativos. Para ele, o importante é garantir a todos os alunos uma boa formação geral básica.
Apoio das escolas particulares
Presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Bruno Eizerik defendeu o novo ensino médio, que, para ele, será mais plural e terá mais protagonismo do aluno, além de expansão da carga horária. “O modelo de itinerários é praticado na grande maioria dos países, na Europa, nas Américas”, disse. “Não estamos inventando um modelo novo, estamos nos adequando a um modelo que existe em muitos países e vem dando resultados positivos”, completou.
Ele acredita que o modelo antigo de ensino médio não vem dando resultados, conforme atesta o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). “Esse exame tem demonstrado, nos últimos resultados, que 95% dos alunos que terminavam o antigo ensino médio não tinham o conhecimento esperado dele de matemática, apenas 5% aprendiam o que era esperado de matemática. Se nós vamos para português, 69% dos alunos que terminavam o ensino médio não tinham aprendido o que era esperado”, afirmou. Além disso, ele chamou atenção para a alta evasão escolar no ensino médio, que chega a 33% dos estudantes, mostrando a necessidade de uma reforma.
Para ele, se houver vontade política, é possível avançar na implementação do novo ensino médio nas escolas públicas, assim como se avançou nas escolas particulares.
Ensino profissional
Diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Rafael Lucchesi chamou a atenção para outros problemas do antigo ensino médio, como a falta de integração com a ensino profissional, deixando essa qualificação inacessível para muitos jovens, sendo que só 22% cursam ensino superior. Segundo ele, nos países europeus o número de estudantes que fazem educação profissional junto com a educação básica é muito maior do que no Brasil.
“Se nós olharmos para países como Áustria, por exemplo, 76% dos jovens que estudam de 15 a 17 anos fazem educação profissional junto com a regular. Na Suíça, 67%. Na Finlândia, 53%. Na média da União Europeia, 43%; nos países da OCDE, 38%, e no Brasil, 9%. Então é claro que isso é um grave problema da matriz educacional brasileira e que essa reforma vem a superar”, disse.
Ele salientou ainda que países com melhores índices educacionais do mundo têm itinerários formativos e avalia que a lógica que impera na matriz educacional brasileira é “academicista”, o que seria “elitizante”.
Visão dos deputados
Primeiro secretário da Câmara, o deputado Luciano Bivar (União-PE) pediu atenção à ética e moral na grade curricular do novo ensino médio.
A deputada Socorro Neri (PP-AC), 1ª vice-presidente da Comissão de Educação, afirmou que, com o seminário, o colegiado vai contribuir com consulta pública já aberta pelo Ministério da Educação sobre o novo ensino médio. Presidente da comissão, o deputado Moses Rodrigues (União-CE) informou que, após o seminário, será produzido relatório a ser apresentado ao ministro da Educação e ao presidente da Câmara. Ele observou ainda que foi criada uma subcomissão no colegiado para acompanhar a implantação do novo ensino médio.
Presidente dessa subcomissão e ex-ministro da Educação durante o governo Michel Temer, que sancionou a reforma, o deputado Mendonça Filho (União-PE) acredita que boa parte das críticas se dirigem ao velho ensino médio, como falta de estrutura e de professores. Para ele, a reforma pode colocar o Brasil sintonizado com as nações mais avançadas do mundo. O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) disse que a reforma é privatista e acusou Mendonça Filho de defender a privatização do ensino, o que foi negado pelo ex-ministro e causou confusão no seminário.

Já o deputado Tarcísio Motta (Psol-RJ) acredita que a reforma é o remédio errado para os problemas apontados no ensino médio, já que a reforma curricular não resolve as questões estruturais da educação pública. A deputada Professora Luciene Cavalcante (Psol-SP) afirmou que a mudança estrutural no novo ensino médio, com os itinerários formativos, causa preocupação pensando “na realidade das escolas públicas, onde estão mais de 80% dos alunos do ensino médio; pensando nas estruturas, já que mais de 3 mil escolas nem têm sistema de esgoto; e pensando na formação dos profissionais da educação”.
Para Pedro Uczai (PT-SC), o ensino médio tem que possibilitar ao mesmo tempo a qualificação para o mundo trabalho, para a universidade e para a cidadania.
Implantação da reforma
Ricardo Tonassi, do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais e Distrital de Educação, informou que a norma aprovada pelo Congresso Nacional já começou a ser aprovada em todos os estados, com distinção do momento da implantação.
“Temos 24 estados que estão já no segundo ano, 2 estados que já implantaram completamente”, disse. Sobre o financiamento da implantação da reforma e da formação de professores, ele afirmou que “se diminuir a corrupção nas secretarias de educação ela vai melhorar”, criticando o dinheiro gasto de forma indevida e desviado para outros fins.
A presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Jade Beatriz, ressaltou que desde 2017 a entidade alerta sobre a reforma do ensino médio e pediu que os estudantes sejam ouvidos. Segundo ela, vários estados ofertam itinerários descolados da realidade, e estudantes estão tendo aula de como fazer brigadeiro em escolas públicas em São Paulo ou de como fazer boneco de palha no estado do Ceará, no lugar de outras disciplinas importantes. Ela questiona como ofertar itinerários em estruturas de escola pública sem laboratório, por exemplo. E considera que o novo ensino médio aumenta a desigualdade social e a evasão escolar.
Reportagem – Lara Haje
Edição – Roberto Seabra
Fonte: Câmara dos Deputados
GERAL
Trump assina tarifa de 50 % sobre todas as importações de produtos brasileiros para os Estados Unidos: confira como isso afeta o Brasil
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) um decreto que impõe tarifa de 50% sobre todas as importações de produtos brasileiros que entram no território americano. A medida entra em vigor no dia 1º de agosto e já causa forte reação entre produtores, exportadores e autoridades brasileiras.
A nova tarifa, que dobra o custo para empresas americanas que compram produtos brasileiros, representa uma mudança radical nas relações comerciais entre os dois países. Antes da medida, a maior parte desses produtos era taxada em cerca de 10%, dependendo do setor.
O que é essa tarifa e como funciona?
A tarifa anunciada por Trump não afeta compras feitas por consumidores brasileiros, nem produtos adquiridos por sites internacionais. Ela vale exclusivamente para produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, ou seja, aqueles enviados por empresas do Brasil para serem vendidos no mercado americano.
Isso significa que, se uma empresa brasileira exporta carne, café, suco ou qualquer outro item, ele chegará aos EUA com 50% de imposto adicional cobrado pelo governo americano.
Exemplo simples:
Para entender como isso afeta na prática, veja o exemplo abaixo:
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Imagine que você é um produtor de suco no Brasil e exporta seu produto aos EUA por R$100 por litro.
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Antes da tarifa, o importador americano pagava esse valor e revendia com lucro no mercado local.
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Com a nova medida, o governo dos EUA aplica 50% de tarifa. Ou seja, seu suco agora custa R$150 para o importador.
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Esse aumento torna o produto muito mais caro nos EUA, podendo chegar ao consumidor final por R$180 ou mais.
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Resultado: o importador pode desistir de comprar de você e buscar outro fornecedor — como México, Colômbia ou Argentina — que não sofre com essa tarifa.
Como isso afeta o Brasil?
A imposição dessa tarifa tem impactos diretos e sérios para a economia brasileira, especialmente no agronegócio e na indústria de exportação. Veja os principais efeitos:
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Queda na competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano.
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Quebra ou renegociação de contratos internacionais já assinados.
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Perda de mercado para concorrentes de outros países.
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Redução nas exportações, com consequências econômicas e sociais no Brasil (queda de faturamento, demissões, retração de investimentos).
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Pressão sobre o governo brasileiro para reagir com medidas diplomáticas ou tarifas de retaliação.
Quais produtos serão mais afetados?
A medida de Trump atinge todos os produtos brasileiros exportados aos EUA, mas os setores mais atingidos devem ser:
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Carnes bovina, suína e de frango
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Café
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Suco de laranja
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Soja e derivados
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Minério de ferro e aço
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Aeronaves e peças da Embraer
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Cosméticos e produtos farmacêuticos
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Celulose, madeira e papel
Brasil pode retaliar?
O governo brasileiro já sinalizou que poderá aplicar medidas de retaliação com base na Lei de Reciprocidade Comercial, aprovada neste ano. A ideia é aplicar tarifas semelhantes sobre produtos americanos exportados ao Brasil, mas isso depende de negociações diplomáticas e análise de impacto.
E o consumidor brasileiro, será afetado?
Neste primeiro momento, não. A medida de Trump não se aplica a compras feitas por brasileiros em sites estrangeiros, nem muda os impostos cobrados sobre importações pessoais.
O impacto é sobre o mercado exportador brasileiro, que depende das compras feitas por empresas americanas. No médio e longo prazo, porém, se os exportadores perderem espaço nos EUA e tiverem que vender mais no Brasil, os preços internos podem oscilar, tanto para baixo (excesso de oferta) quanto para cima (reajustes para compensar perdas).
A tarifa de 50% imposta por Trump é uma medida com alto potencial de desequilibrar o comércio entre Brasil e Estados Unidos. Empresas brasileiras correm o risco de perder contratos, mercado e receita. A decisão política tem impacto direto na economia real — do produtor de suco ao exportador de carne.
O governo brasileiro já avalia uma resposta, enquanto produtores tentam entender como seguir competitivos em um cenário que muda de forma drástica.
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