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Indígenas veem “institucionalização do genocídio” em projetos de lei sobre marco temporal

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Indígenas denunciaram nesta terça-feira(16), na Câmara dos Deputados, o aumento das pressões de setores econômicos para a aprovação de projetos de lei que consideram danosos aos povos tradicionais, às vésperas da decisão final do Supremo Tribunal Federal sobre os critérios para a demarcação de novos territórios.

O debate ocorreu em audiência pública conjunta das comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e da Amazônia e dos Povos Originários. O principal alvo das críticas é o projeto de lei que transfere para o Legislativo a palavra final sobre demarcações e adota a tese do marco temporal, que só considera as áreas ocupadas por indígenas até 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal (PL 490/07).

O texto polêmico surgiu em 2007 e é analisado com outras 15 propostas semelhantes, as duas últimas apresentadas em abril e no início deste mês. Um requerimento com cerca de 260 assinaturas de deputados acaba de pedir urgência para a votação imediata das propostas no Plenário da Câmara (REQ 1526/23).

Priscila Terena, assessora jurídica do Conselho do Povo Terena, citou 156 terras, oito etnias e mais de 80 mil indígenas impactados, em caso de aprovação desses textos. “A aprovação é a declaração do nosso extermínio e o início da institucionalização do nosso genocídio”, disse.

Presidente da Comissão da Amazônia e coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas, a deputada Célia Xakriabá (Psol-MG) citou outros danos que identificou nas propostas. “Trata de transformar o marco temporal em lei, com o objetivo de inviabilizar a demarcação dos territórios indígenas; permite a construção de rodovias, hidrelétricas e outras obras em terras indígenas sem consulta livre, prévia e informada aos povos afetados, facilitando a grilagem em terras indígenas”, apontou.

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A deputada apresentou requerimento para que as propostas, já prontas para votação no Plenário da Câmara, sejam redistribuídas para uma análise prévia da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários, recentemente criada (REQ 1495/23).

Segurança jurídica x direitos garantidos
Principal autor do requerimento para votação imediata, o deputado Zé Trovão (PL-SC) disse que a intenção é buscar segurança jurídica e estabilidade das atividades produtivas nas áreas rurais. “Parece que essa discussão se tornou uma guerra, mas não é. Nós queremos dar aos povos indígenas e também aos produtores rurais tranquilidade nos campos, porque também os produtores rurais estão desesperados. Terras que são ocupadas por produtores há mais de 50 anos e que foram compradas serão tomadas deles”, afirmou.

Advogados das entidades indígenas Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) apontaram inconstitucionalidade nas propostas em análise na Câmara.

Ex-deputada federal, a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana, denunciou riscos a direitos fundamentais previstos na Constituição. “É uma tentativa de inverter os direitos constitucionais que são bastante claros, estão no artigo 231 e garantem aos povos indígenas os seus direitos originários imprescritíveis, indisponíveis e inalienáveis. Esses são princípios fundamentais que tornam o artigo 231 cláusula pétrea”, disse.

Liderança do povo Xokleng, Brasílio Pripá discursou contra o marco temporal: “O direito da comunidade indígena não começou em 1988. Nós estamos aqui há mais de 500 anos em cima dessa terra.”

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O deputado Ivan Valente (Psol-SP) avalia que a atual pressão da bancada do agronegócio está ligada à futura decisão do STF sobre os critérios constitucionais para a demarcação de terras indígenas. A retomada do julgamento, interrompido em 2021, está marcada para 7 de junho. A partir de um processo movido contra o povo Xokleng, de Santa Catarina, a Corte decidirá, com repercussão geral, se prevalece a tese do marco temporal de 5 de outubro de 1988 ou o direito originário dos indígenas combinado com a tradicionalidade na ocupação de suas terras. Essa última tese é defendida pelo governo Lula, que anunciou, em abril, seis novas terras indígenas homologadas, após cinco anos de paralisação nos governos anteriores.

Para o secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena, a Constituição já traz os critérios corretos para as demarcações. “A tradicionalidade é a forma como cada povo se relaciona com o seu território. Isso não tem nada a ver com o tempo, mas tem a ver com o modo de ocupação, o modo de relação de cada povo indígena com o seu território. É por isso que a nossa orientação é concluir a demarcação das terras indígenas que estão pendentes”, disse.

O coordenador do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Jaime Siqueira, informou que, em média, os processos de demarcação têm durado 20 anos no Brasil. Ele também destacou a correção dos estudos técnicos e antropológicos que fundamentam a delimitação das áreas indígenas.

Reportagem –  José Carlos Oliveira
Edição – Ana Chalub

Fonte: Câmara dos Deputados

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GERAL

Trump assina tarifa de 50 % sobre todas as importações de produtos brasileiros para os Estados Unidos: confira como isso afeta o Brasil

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) um decreto que impõe tarifa de 50% sobre todas as importações de produtos brasileiros que entram no território americano. A medida entra em vigor no dia 1º de agosto e já causa forte reação entre produtores, exportadores e autoridades brasileiras.

A nova tarifa, que dobra o custo para empresas americanas que compram produtos brasileiros, representa uma mudança radical nas relações comerciais entre os dois países. Antes da medida, a maior parte desses produtos era taxada em cerca de 10%, dependendo do setor.

O que é essa tarifa e como funciona?

A tarifa anunciada por Trump não afeta compras feitas por consumidores brasileiros, nem produtos adquiridos por sites internacionais. Ela vale exclusivamente para produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, ou seja, aqueles enviados por empresas do Brasil para serem vendidos no mercado americano.

Isso significa que, se uma empresa brasileira exporta carne, café, suco ou qualquer outro item, ele chegará aos EUA com 50% de imposto adicional cobrado pelo governo americano.

Exemplo simples: 

Para entender como isso afeta na prática, veja o exemplo abaixo:

  • Imagine que você é um produtor de suco no Brasil e exporta seu produto aos EUA por R$100 por litro.

  • Antes da tarifa, o importador americano pagava esse valor e revendia com lucro no mercado local.

  • Com a nova medida, o governo dos EUA aplica 50% de tarifa. Ou seja, seu suco agora custa R$150 para o importador.

  • Esse aumento torna o produto muito mais caro nos EUA, podendo chegar ao consumidor final por R$180 ou mais.

  • Resultado: o importador pode desistir de comprar de você e buscar outro fornecedor — como México, Colômbia ou Argentina — que não sofre com essa tarifa.

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Como isso afeta o Brasil?

A imposição dessa tarifa tem impactos diretos e sérios para a economia brasileira, especialmente no agronegócio e na indústria de exportação. Veja os principais efeitos:

  • Queda na competitividade dos produtos brasileiros no mercado americano.

  • Quebra ou renegociação de contratos internacionais já assinados.

  • Perda de mercado para concorrentes de outros países.

  • Redução nas exportações, com consequências econômicas e sociais no Brasil (queda de faturamento, demissões, retração de investimentos).

  • Pressão sobre o governo brasileiro para reagir com medidas diplomáticas ou tarifas de retaliação.

 

Quais produtos serão mais afetados?

A medida de Trump atinge todos os produtos brasileiros exportados aos EUA, mas os setores mais atingidos devem ser:

  • Carnes bovina, suína e de frango

  • Café

  • Suco de laranja

  • Soja e derivados

  • Minério de ferro e aço

  • Aeronaves e peças da Embraer

  • Cosméticos e produtos farmacêuticos

  • Celulose, madeira e papel

Brasil pode retaliar?

O governo brasileiro já sinalizou que poderá aplicar medidas de retaliação com base na Lei de Reciprocidade Comercial, aprovada neste ano. A ideia é aplicar tarifas semelhantes sobre produtos americanos exportados ao Brasil, mas isso depende de negociações diplomáticas e análise de impacto.

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E o consumidor brasileiro, será afetado?

Neste primeiro momento, não. A medida de Trump não se aplica a compras feitas por brasileiros em sites estrangeiros, nem muda os impostos cobrados sobre importações pessoais.

O impacto é sobre o mercado exportador brasileiro, que depende das compras feitas por empresas americanas. No médio e longo prazo, porém, se os exportadores perderem espaço nos EUA e tiverem que vender mais no Brasil, os preços internos podem oscilar, tanto para baixo (excesso de oferta) quanto para cima (reajustes para compensar perdas).

A tarifa de 50% imposta por Trump é uma medida com alto potencial de desequilibrar o comércio entre Brasil e Estados Unidos. Empresas brasileiras correm o risco de perder contratos, mercado e receita. A decisão política tem impacto direto na economia real — do produtor de suco ao exportador de carne.

O governo brasileiro já avalia uma resposta, enquanto produtores tentam entender como seguir competitivos em um cenário que muda de forma drástica.

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